A Terapia de Francisco
Num ano completamente atípico, o mês missionário surge entre neblina que tantas vezes esconde a esperança cristã. A nova Encíclica do Papa Francisco é um excelente aviso à navegação!
“Todos irmãos”, pode-se resumir nesta frase: Precisamos da “amizade social” para um mundo doente. Francisco é extremamente preciso na análise do mundo atual:
«É possível desejar um planeta que garanta terra, casa e trabalho para todos. Este é o verdadeiro caminho da paz, e não a estratégia tola e míope para semear o medo e a desconfiança das ameaças externas».
A amizade social surge como forma de sonhar e pensar outra humanidade, seguindo a lógica da solidariedade e da subsidiariedade para superar a desigualdade planetária já denunciada em "Louvado sejas". A terapia recomendada é fraternidade. O modelo é o do Bom Samaritano, que assume «a dor dos fracassos, ao invés de fomentar ódio e ressentimento».
Uma pandemia que continua a revelar todas as nossas fragilidades físicas, sociais e espirituais. Um vírus que expôs a grande desigualdade que reina no mundo: desigualdade de oportunidades, de bens, de acesso à saúde, tecnologia, educação…
Na audiência de quarta-feira passada, Francisco disse:
«Estas injustiças não são naturais nem inevitáveis. São obra do homem, vêm de um modelo de crescimento desvinculado de valores mais profundos. O desperdício da refeição que sobra, com esse desperdício pode-se alimentar a todos. E isso fez com que muitos perdessem a esperança e aumentassem as incertezas e angústias. Para sair da pandemia, precisamos encontrar a cura não só para o Coronavírus, que é importante, mas também para os grandes vírus humanos e socioeconómicos».
A terapia da fraternidade torna normal o pão que chega a todos e a organização social baseia-se em contribuir, compartilhar e distribuir com ternura e não em possuir, excluir e acumular. O Bom Samaritano fez apenas isto: não assobiou para o lado, não fingiu não ver, não passou ao lado.
No mês em que temos a missão no nosso horizonte, tenhamos a coragem de sair para as periferias! Periferias que tantas vezes nós próprios nos encontramos, porque imbuídos na lógica do mundo e não na lógica do Reino dos Céus.