TODOS devemos preocupar-nos com TODOS
Inicio esta crónica com a citação de um pequeno trecho de Edgar Morin. Creio que ainda não foi editado em português, no entanto, a sua pertinência é tão relevante que traduzo um pequeno parágrafo:
"Nunca estivemos tão presos fisicamente como no confinamento e, no entanto, nunca estivemos tão abertos ao destino terreno. Estamos condenados a refletir sobre nossas vidas, sobre nossa relação com o mundo e sobre o próprio mundo. O pós-coronavírus é tão preocupante quanto a própria crise. Pode ser apocalíptico ou um gerador de esperança. Mas o que vai ser? A crise da saúde, económica, política e social levará à desintegração das nossas sociedades? Seremos capazes de tirar uma lição desta pandemia que revelou a todos nós humanos um destino comunitário intimamente ligado ao destino bioecológico do planeta? Aqui entramos na era das incertezas. O futuro imprevisível já está em gestação.”
O tempo que vivemos é marcado pela incerteza, pelo medo e pela perplexidade num futuro ainda muito marcado pela precariedade. A experiência da pandemia tornou-nos um pouco mais frágeis e conscientes da nossa vulnerabilidade devido ao colapso das nossas ilusões de omnipotência.
Depois de um verão em que pouco se ouviu falar de contágios e morte, eis que elas retornam, até de forma assustadora. De facto, este futuro próximo é-nos ainda muito imprevisível. E pior, se experimentamos a beleza de uma solidariedade que parecia ter vencido o individualismo desenfreado e aberto caminhos de proximidade concreta, feita de pequenos e grandes gestos de cuidado e proximidade, com a retoma das atividades e do quotidiano, aos poucos vamos esquecendo o que vivemos, os sofrimentos que passamos, os gestos de generosidade que recebemos e doamos, para retornar às modalidades relacionais fechadas e autorreferenciais. Parece que a experiência vivida não nos mudou…
A pandemia fez-nos sentir o quanto precisamos uns dos outros, a necessidade de criar redes de solidariedade entre famílias e comunidades para sair do isolamento. É preciso continuar a dar pequenos passos de abertura, de encontro com o outro, alicerçando as relações recíprocas naquele sentimento de fraternidade que ultrapassa as diferenças e os limites e nos impulsiona a procurar o bem juntos. Saibamos ler e viver a nova encíclica do Papa Francisco!
O mandamento de amor que o Senhor nos deixou só pode ser vivido em gestos concretos de cada dia, não em ideias ou belas reflexões, mas em levar a sério o irmão, e assim, criar uma cultura de encontro.
Ainda que o futuro seja imprevisível, como escreveu Morin, uma coisa sabemos: passa pela abertura ao outro que connosco viaja no mesmo barco e no mesmo mar. Podemos estar em "classes diferentes", ter condições para ser "vip" ou não, mas sabemos que todos viajamos no mesmo "Titanic", e que todos iremos ao fundo se não cuidarmos uns dos outros e todos de toda a Criação.
No domingo passado, Dia Mundial das Missões, Francisco disse no Angelus: “Cada cristão é chamado a ser tecedor de fraternidade. São-no, de modo especial, os missionários e missionárias – sacerdotes, leigos, consagrados – que semeiam o Evangelho no grande campo do mundo. Rezemos por eles e ofereçamos-lhe o nosso apoio concreto. Portanto, TODOS somos missionários e TODOS devemos preocupar-nos com TODOS.