Santos da porta ao lado. Eu conheço. E tu?
Fez ontem um ano que tive o privilégio de "trocar meia dúzia de palavras" com o Papa Francisco, na Cidade do Vaticano. Ainda hoje recordo essas palavras, que passam da meia mas não chegam a uma dúzia.
Retenho o seu rosto, o seu sorriso, o seu agradecimento e a sua humildade. Sim. Acima de tudo a sua humildade. O Papa é aquele mesmo homem que vejo nas imagens das televisões, das redes sociais e da internet. É aquele homem que leio nos documentos da Igreja, nas homilias de Santa Marta, nas audiências e no Angelus de cada domingo: humilde, sereno e bem disposto.
Sempre que me lembro deste encontro, releio a Exortação Apostólica «Gaudete et Exsultate», de 2018. Uma carta que fala, sobretudo, da nossa vocação à santidade. Ser santo é aceitar e realizar o melhor que soubermos o «caminho único e específico que o Senhor predispôs para nós». Pois é assim que vejo Francisco. Foi esta a imagem que retive ao olhar aquele homem um pouco mais baixo de estatura, do que eu.
E o seu olhar confirmou tudo o que sempre pensei dele. Olhou para mim, não como uma obrigação ou cordialidade pelo encontro, mas com o objetivo de estar comigo naquele momento. O Papa Chico, como carinhosamente o penso, preocupa-se com todos aqueles que encontra, pensa, reflete e reza. Ao mesmo tempo, aquele olhar exige um compromisso da minha, da nossa parte.
Aqui está o que é, nos nossos dias,cada vez mais difícil: comprometermo-nos com a nossa vocação à santidade que nos exige uma atenção cuidadosa ao outro. É impossível amar Deus, excluindo o outro que é todo o ser humano, especialmente, o mais necessitado, o mais pequeno, o mais miserável.
Ao ler a Exortação, percebemos que o Papa diz-nos que ser santo, não é apenas ter uma vida extraordinária, com feitos grandiosos. Responder à Graça que nos santifica, é apenas fazer o melhor que soubermos o caminho da nossa vocação. Uma mãe que educa os seus filhos depois de um dia de trabalho; um pai que conta histórias ao fim de um dia semelhante, é percorrer o caminho da santidade.
Nestes dias diferentes, trespassados por medo, insegurança quanto à saúde e ao futuro, sair de casa e socorrer um idoso ou um doente nas suas necessidades primárias, como sejam a alimentação ou a higiene, é percorrer o caminho da santidade.
Estes feitos não são obra de uma qualquer Organização Não Governamental (ONG) católica ou cristã, mas frutos da oração com o Senhor. É Ele que nos chama a amá-Lo no irmão que precisa de nós.
E graças a Deus, já vivi e convivi com muitos santos, não só na porta ao lado, mas mesmo dentro da minha porta.
Deus seja louvado!