Do «Presente Infinito» ao «Futuro de Esperança»
Por natureza, e como qualquer pessoa, gosto de perceber o mundo e as suas vivências. Como para muitos de vós, a pandemia e a reação das pessoas a esta, é um dos focos da minha atenção nos últimos meses. Esta semana, a expressão que li e mais me fez refletir foi esta que faz a primeira metade do título desta crónica: Presente infinito.
A pandemia prendeu-nos a um "presente infinito" e talvez seja por isso que muitos de nós nos descobrimos como frágeis, vulneráveis e inseguros. Com os últimos dados sobre os contágios e as mortes, parece-nos que tudo isto não tem um fim, pelo contrário, tende a agravar-se.
É verdade que vivemos um tempo complexo e confuso, mas não devemos perder a esperança! Percebo nos jovens que diariamente tenho pela frente nas aulas; sinto nos familiares com quem estive nas festas natalícias; ouço dos idosos que acompanho uma extrema necessidade de consolação, de encontrar alguém que os conforte, os ajude nas dificuldades e os apoie como presença amiga e fiel. Todos nós precisamos de ser acolhidos e de acolher.
Este tempo também está a consciencializar-nos para algo mais profundo e que lutamos ora para reconhecer e nomear, ora para fugir e esquecer: o vazio existencial que nos habita, a precariedade dos valores que nos movem e que não motivam nem dão esperança.
Este presente infinito está a mostrar-nos que fomos alimentando-nos de tanta exterioridade e de tanto vazio. E quando estes não nos salvam; quando as promessas destes reis e destes reinos desabam e revelam toda a sua inconsistência; quando o sofrimento nos surpreende inesperadamente e traz à tona toda a nossa fragilidade e a nossa vulnerabilidade, surge o medo.
Em si mesmo, o medo é uma emoção positiva que sinaliza a iminência de um perigo para que assim possamos fazer algo para evitá-lo. Em muitas circunstâncias, é fisiológico e não uma falta de fé. No entanto, quando isso te impede de confiar a tua vida a Deus, que cuida de cada um mesmo numa situação que parece contradizer a sua proximidade, pode tornar-se numa falta de fé ou numa fé vacilante, também humana. Nestes momentos é necessário invocar com maior insistência a presença de Deus ao nosso lado, para que nos dê a graça de continuar a confiar nele. É Ele que alimenta a verdadeira esperança!
Foi o que li nas palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo: «É impressionante que o Senhor tenha passado a maior parte do tempo na Terra assim, vivendo o dia a dia, sem aparecer (…) Segundo os Evangelhos, foram três anos de sermões, milagres e muitas coisas. Três. E os outros, todos os outros, têm uma vida escondida na família. (…) No primeiro dia do seu ministério - o batismo no Jordão - Jesus oferece-nos assim o seu manifesto programático. Diz-nos que não nos salva do alto, com uma decisão soberana ou com um ato de força, um decreto. Não. Ele salva-nos vindo ao nosso encontro e levando sobre si os nossos pecados. (…) É válido também para nós: em cada gesto de serviço, em cada obra de misericórdia que fazemos, Deus manifesta-se, Deus olha para o mundo. A salvação é gratuita. É um gesto gratuito da misericórdia de Deus para connosco».
Quando nos aproximamos do outro, quando nos consolamos mutuamente, transformamos este presente infinito, num futuro de esperança.