O poder da música
A música é uma forma de arte, uma combinação de ritmos e sons, mas, o mais importante, é que a música é a última parte do nosso corpo a morrer. Por isso é que o poder da música nos transcende.
Quantas vezes ouvimos uma música e nos lembramos de algum momento da nossa vida ou de uma pessoa importante. Quantas vezes exprimimos os nossos sentimentos através da música e é ela que nos anima e nos motiva a continuar. Até aquelas coreografias mais míticas vêm ao de cima quando ouvimos aquela música. E, passe o tempo que passar, essas memórias não se apagam.
A música tem mesmo o poder de nos falar ao coração, de nos transmitir emoções e é através da música que abrimos o nosso coração. Aquilo que falta às palavras, a música tem. E este é o poder da música: contactar com o nosso verdadeiro eu. Falar-nos, falar por nós, ajudar- nos a crescer e a falar do que sentimos.
No caso das pessoas com Alzheimer, a música tem o poder de evocar emoções e, com isso, reavivar memórias que se pensavam perdidas. Isto porque a memória musical é a última a desaparecer. Para quem não sabe, a musicoterapia é, segundo a Federação Mundial de Musicoterapia, a utilização profissional da música e dos seus elementos como intervenção em ambientes médicos, educativos e quotidianos, com o objetivo de otimizar a qualidade de vida das pessoas e potenciar a saúde física, psíquica, social, emocional e intelectual.
No meu curto tempo como musicoterapeuta, pude observar o impacto da musicoterapia nestas pessoas. Pessoas que não falavam nem reagiam a estímulos, responderem através de instrumentos musicais, cantarem uma canção do início ao fim, responderem a perguntas simples, recordarem-se dos seus tempos de criança, jovem e adultos. São pequenas coisas que nos mostram que estas pessoas continuam connosco e capazes de comunicar.
Em doentes mais agitados, a musicoterapia consegue uma diminuição da agitação e melhor qualidade de vida para estas pessoas. Também tem o poder de voltar a unir famílias, de lhes dar pequenos momentos de conversa entre uma pessoa com Alzheimer e o seu familiar e de lhes permitir conectar com emoções há muito desaparecidas.
Lembro-me de uma senhora com Alzheimer severo, que não falava e estava sempre agitada. Mas quando lhe cantava o “A 13 de Maio” ela cantava comigo, sem se enganar na letra da música. No final da música era capaz de me descrever a igreja onde cantava, a sua fé e até o nome das suas filhas.
A música e a fé têm uma relação muito próxima e nem Deus morre nas memórias do doente com Alzheimer. Não importa o avançar da doença, a pessoa continua lá e a música tem o poder de a reencontrar e de conectar com ela. Este é o poder da música!