Ressurreição: a refeição de toda a vida!
“Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?» Deram-Lhe uma posta de peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles.”
Lc 24, 40-43
Não O reconheceram na chegada, nem quando O tocaram. Só se perceberam que era Ele quando pediu para comer. Só aí é que os seus olhos se abriram. Só aí é que as suas desconfianças foram por água abaixo (pois bem sabiam que à Sua mesa só poderia ser partilhado um vinho doado e brindado).
Não deixa de ser curioso todos estes pormenores. Só se deixam acreditar quando estão de novo à mesa. Só se deixam confiar quando a comida lhes mostra de novo a Sua humanidade, o seu apetite. É preciso o alimento da vida terrena para que eles reconheçam Aquele que é o alimento de todas as vidas. É preciso um simples prato de peixe para que descubram de novo a beleza d'Aquele que um dia lhes tinha feito pescadores de Homens.
Só na partilha, na convivência e na comunhão é que O voltaram a reconhecer. Tal como os discípulos de Emaús, tudo voltou a fazer sentido no gesto simples da refeição. E nós podemos nem saber o que será ou como será a Ressurreição, mas todos nós sabemos a vida que pode surgir à volta de uma mesa. E, se calhar, precisamos de começar a olhar para este mistério da Ressurreição como quem olha para uma mesa recheada de comida, de amigos, de alegrias e partilhas.
Se o Ressuscitado se dá a conhecer no partir do pão e no simples sentar à mesa para saborear uma refeição, então a Ressurreição pode acontecer todas as vezes em que brindamos a vida. Pode acontecer todas as vezes em que unidos e reunidos à volta da mesa damos a conhecer toda a nossa história. Pode acontecer todas as vezes em que multiplicamos as nossas gargalhadas e em tantas outras em que dividimos as nossas lágrimas, dores e incompreensões.
Se acreditarmos verdadeiramente nisto, apesar de todas as nossas dúvidas, então podemos salvar e salvarmo-nos. Se acreditarmos profundamente nisto, estaremos a ser salvos à mesa. Se acreditarmos plenamente nisto, ninguém poderá ser deixado para trás.
Somos salvos na refeição. Somos salvos à mesa. E haverá lugar mais bonito para que a nossa vida possa ser res(suscitada)?