Os Símbolos da nossa Salvação
Por estes dias celebramos datas cheias de significado. Comemoramos momentos históricos ou importantes dimensões da vida humana: tivemos o 25 de Abril, chegam o 1º de Maio e o Dia da Mãe. Também celebramos o domingo do Bom Pastor. Nesta densidade vivencial necessitamos da linguagem simbólica para exprimir o inexprimível, o quase indizível. E aí surge o cravo, a imagem do Bom Pastor…
E é neste contexto que, num texto um pouco mais longo, quero falar de Símbolos Cristãos antigos.
O que é o símbolo? Com origem no verbo grego sym-ballo, etimologicamente a palavra symbolon refere-se à união de duas coisas separadas que se complementam, ou seja, uma parte remete à outra, dois elementos que se interrelacionam, no nível do sentido e não do objeto em si mesmo.
Neste sentido, o símbolo é a linguagem básica da experiência religiosa. Ele faz pensar; sempre diz mais do que diz; é a linguagem do profundo, da intuição, do enigma.
Quando falamos de símbolos cristãos, os nossos pensamentos voltam-se para as representações majestosas das basílicas medievais, para as obras refinadas da Renascença, para as produções da arte barroca. No entanto, a ligação entre a pregação cristã e as imagens tem origens muito mais antigas. Na verdade, remonta às primeiras comunidades que se estabeleceram na Roma imperial. Foi sobretudo durante o período das perseguições sangrentas, por volta do século II, que os cristãos desenvolveram uma verdadeira linguagem de figuras e símbolos, através da qual se podiam reconhecer e depois confessar secretamente a fé comum.
Por meio das imagens foi possível descrever a riqueza dos episódios bíblicos, muitas vezes de difícil compreensão. Na verdade, será o Papa Gregório Magno a explicar a um padre de Marselha, preocupado precisamente com tantas imagens nas igrejas, que nos lugares sagrados "se usa a pintura para que os analfabetos possam ler com os olhos nas paredes o que não conseguem ler nos livros".
Nos primeiros anos da era cristã, o símbolo mais antigo não era a cruz mas o peixe. Este adquiriu um profundo significado cristológico. A origem está na etimologia grega da palavra ichtùs, em que as suas letras significavam Iesùs Christos Théou Uiòs Sotér (Jesus Cristo Filho de Deus Salvador). O símbolo funcionava como uma espécie de senha: uma pessoa desenhava um arco no chão e o outro completava formando um peixe e ambos se reconheciam como cristãos.
A cruz aparecerá um pouco mais tarde e não é a que conhecemos hoje. Também tem a sua origem no universo cultural greco-romano: formada pela união das letras do monograma de Cristo, X e Ρ, acompanhadas pelas letras Α e Ω que retomam o texto do Apocalipse "Eu sou o alfa e o ômega" (Ap 1,8). A cruz estava representada nos sarcófagos e nos túmulos dos cristãos, pois queria indicar que com a morte a vida do homem não acaba, mas continua na expectativa de Cristo no fim dos tempos.
Em lugar de destaque temos a imagem do Bom Pastor. A figura tem origem na parábola evangélica mas a sua representação nas catacumbas indicava a função de Cristo na História da Salvação. Jesus que desce ao inferno para encontrar a ovelha perdida, ou a humanidade caída no pecado, e sobe com ela nas costas à montanha, o que significa a vocação à Ressurreição e à vida eterna.
A imagem do Bom Pastor é a representação simbólica mais comum encontrada na arte cristã primitiva das catacumbas de Roma. A imagem mostrando um jovem carregando uma ovelha nos ombros foi emprestada diretamente do deus pagão Hermes krióphoros do século V a.C. Na mitologia grega, a figura de Hermes aparece muitas vezes identificada com as atividades do pastoreio, o que acabou por conferir-lhe o título de protetor dos rebanhos e dos pastores, sendo representado na cultura greco-romana carregando um cordeiro. Esse deus aparece também associado a contextos fúnebres, já que Hermes era visto também como guardião e acompanhante das almas.
Sendo uma representação de Jesus continuou a ser utilizada nos séculos seguintes à legalização do cristianismo no Império Romano no ano 313. Inicialmente e provavelmente, não era entendida como sendo um retrato de Jesus, mas um símbolo como outros utilizados na arte cristã primitiva.
Em conclusão, e apesar de haver muitos outros símbolos nesta arte cristã, o cristianismo primitivo elaborou uma linguagem complexa que se serviu de formas arcaicas e de significados teológicos complexos, convertendo a cultura pagã à cultura cristã.
E o cristianismo atual?
Fica a pergunta…