O Dia da Criança e…?
Hoje, em alguns países, comemora-se o Dia da Criança. No último domingo celebramos a Santíssima Trindade. Curiosamente são duas datas importantes para o ser-se cristão.
Enquanto seres humanos temos muitas dificuldades em definir, em explicar este mistério de um Deus Uno e Trino. Dificuldade que não é desmotivadora porque se o fizéssemos, Deus deixava de ser Deus porque reduzido à nossa condição humana. Definimos e justificamos estas Três Pessoas num Único Deus, através do conceito de Família de Amor: o Amante, o Amado e o Amor. Amor que gera Amor. Os cristãos, e as suas famílias, aspiram a este Amor.
Hoje pensamos nas crianças. Quando olhamos para o cenário europeu, ousarei dizer para a cultura ocidental, assistimos a um "inverno demográfico". O Papa Francisco já o referiu. O que se passa connosco? Que famílias temos e queremos? Se aspiramos àquela Família de Amor, o que está a conduzir ao envelhecimento da Europa?
Muitas são as razões por todos conhecidas: de uma vida rural passamos para a urbanidade; a mulher deixou a casa e tem o seu próprio emprego; a dificuldade da estabilização do trabalho; o consequente adiamento do casamento e da maternidade/paternidade; o acesso a estruturas de apoio à infância, como infantários e creches… Entre outras.
No entanto estas não são as únicas. Os próprios modelos culturais da procriação estão em crise. Os movimentos de emancipação das mulheres do pós-guerra e de libertação feminista dos anos 70 promoveram a cultura da autorrealização, a rejeição da primazia ontológica do homem, a crítica das estruturas familiares tradicionais.
Se por um lado, é boa a luta pela igualdade de género onde o homem deve assumir a sua corresponsabilidade no ato gerador de uma nova vida, por outro, estes movimentos de libertação rebelaram-se contra o condicionamento cultural do destino biológico da mulher, recusando a maternidade.
Mas a mudança cultural não ficou por aqui. Há uma "ditadura do eu". Prevalece o "narcisismo de massa", a recusa em fazer sacrifícios para projetar, por meio dos filhos, as suas esperanças. Nos nossos jovens há a tendência de adiar os momentos de transição para a vida adulta, sobretudo a escolha corajosa de serem pais. Do ponto de vista da cultura dominante, ter filhos é considerado um salto no escuro.
É verdade que a decisão de ter filhos é uma escolha existencial íntima e profunda, e surge da perceção do próprio destino na história do mundo. Mas, se a escolha de ter ou não ter filhos permanece estritamente privada, a soma das escolhas individuais produz consequências públicas. Por isso, é preciso recuperar o sentido de comunidade e a esperança coletiva. Já João Paulo II havia apontado, como principal fator, a falta de esperança…
Os motivos pessoais são muito mais importantes do que os condicionamentos socioeconómicos.
Que a Santíssima Trindade nos ajude a estabelecer autênticas comunidade, autênticas famílias onde brota o verdadeiro amor.