«O Silêncio é de Ouro»
Enquanto professor sinto-me cansado pelo facto deste ano letivo "nunca mais terminar". Esta fadiga é visível em toda a escola: nos professores, funcionários e alunos. E este estado gera um certo frenesim, uma certa agitação, um certo barulho onde encontrar momentos de pausa é difícil. Faz-nos falta o silêncio.
Ao ouvir as notícias nos últimos meses, tenho a ideia de que perdeu-se o silêncio na nossa sociedade. Aliás, é interessante esta dicotomia entre o "silêncio perdido" e o "silêncio desejado".
Quando ouço tantas intervenções sobre a pandemia, o seu combate e a retoma económica, chego à conclusão que se perdeu o silêncio. Ou seja, são tantos os técnicos, os políticos, os responsáveis e "demais especialistas", que dizem uma receita e depois o seu contrário, consoante o interesse da ocasião, que fico com a certeza de que se perdem boas ocasiões para se estar calado.
O silêncio desejado é a ocasião propícia para uma boa comunicação. Ele ajuda a encontrar as palavras significantes para as circunstâncias da vida e do nosso agir quotidiano. Portanto, o silêncio não é necessariamente a ausência de palavras, mas uma reflexão prévia antes de falar. O pensamento tem a capacidade de nos colocar perante as nossas ideias e levar-nos a assumir atitudes que nos coloquem contra a instrumentalização e a aparência da nossa comunicação.
Falta-nos esta honestidade intelectual. Ainda mais a quem governa quando tem um povo que sofreu e ainda não venceu a batalha contra a Covid-19.
Num ano em que ainda somos convidados a festejar os Santos Populares com muitas restrições, como se viu no Santo António em Lisboa, tenhamos a ousadia de Maria que meditava tudo no silêncio do seu coração.