Senhor, dai-me uma vida simples!
Encontro-me novamente em quarentena. Não é a primeira vez e, suspeito, que não será a última. Terminei 2020 contagiado com a Covid-19. Não passei o Natal com os meus pais pois tive que viver em isolamento profilático até ao início de 2021. Desde Março, já perdi a conta às "Pesquisas de RNA do vírus SARS-CoV-2 por PCR", vulgo, teste à Covid-19. Começo a ficar cansado de tanta zaragatoa… Como sou, novamente, contato de Alto Risco apesar de teste Negativo, tenho que ficar por casa.
Curiosamente, apesar do enfado, vejo estes tempos como propícios ao redireccionamento para o essencial da vida. A pandemia pode ensinar-nos que afinal precisamos de poucas coisas.
Centro-me no que tenho por casa. Sempre me achei uma pessoa desprendida, no entanto reparo que tenho excesso de coisas: roupas, canecas, papéis, malas, sapatos…
Redefino férias. Não preciso de ir a lugar nenhum para contemplar a beleza da Criação. Posso fazê-lo a partir da minha janela! Não preciso de procurar a pobreza lá ao longe, encontro-a ao sair da porta de casa…
Olho à minha volta e apetece gritar tenho coisas a mais!... Para quê tanto objeto e tanto desejo?!... Já Buda dizia que na origem de todo o sofrimento estava o desejo…
Não tenho dúvidas! E, como Isabel Allende, depois de perceber quem são os verdadeiros amigos e as pessoas com quero estar, não preciso de mais nada.
A rejeição que Jesus teve na sua terra, como tivemos a oportunidade de ouvir e meditar no evangelho do domingo passado, deve-se em muito a esta ocupação excessiva com as coisas deste mundo. E é um alerta para as nossas vidas de hoje.
Quando estamos a algumas semanas de um repouso merecido depois de meses ainda mais saturantes de cuidados connosco e com os outros, sejamos capazes de buscarmos o essencial nas nossas vidas. Só assim teremos o coração aberto e estaremos à espera da vida simples que Jesus nos propõe.
Boa semana.
Rezemos pelo Papa Francisco.