E se tiver de ser diferente?

Crónicas 15 outubro 2021  •  Tempo de Leitura: 2

E se tiver de ser diferente? Esta talvez seja a questão que mais nos assusta tanto a nível pessoal como a nível comunitário. Fazer de uma outra forma ou mudarmos o que temos vindo a ser é ter a coragem de, depois de termos ponderado tudo, arriscar no desconhecido com a esperança de que algo de bom e de melhor possa surgir nas nossas vidas.

 

E se tiver de ser diferente? Acredito que seja isto que o Papa Francisco nos convida a todos nós neste Sínodo. E se tivermos de mudar? De deixar de anunciar como temos anunciado? E se tivermos de inovar sem perdermos o essencial, que é Cristo? E se tivermos de ouvir quem anda pelas bermas das nossas vidas? E se tivermos de abrir a porta a quem temos medo? E se tivermos de escutar os Santos e Santas que não praticam os nossos rituais, mas que dão testemunho do Seu nome?

 

Os avanços na Igreja, ao contrário do que vai acontecendo no Mundo, são dados de uma forma mais lenta e isso tem realmente coisas boas, pois não caminhamos por entre modas, mas caminhamos cientes de que vivemos segundo Cristo. No entanto, muitas vezes, isso parece ser uma desculpa para não se mudar. Parece ser um convite a deixarmo-nos ficar quietos e desconfiados. Recorda-me a hesitação de Pedro quando Jesus lhe pede para ir novamente ao mar e colocar as redes fora do seu barco. Parecia uma proposta tola, descabida e que aparentemente não trazia nada de novo, mas a verdade é que as redes de Pedro encheram-se de peixes. Por isso, aquilo que me questiono e que também gostava que questionassem é o seguinte: não terá chegado o tempo de soltarmos de novo as redes da nossa fé? Num mesmo mar, mas de um outro jeito?

 

Urge uma verdadeira escuta, mas que não nos fiquemos apenas nisso. Façamos como os apóstolos que, depois de escutarem atentamente Cristo Ressuscitado e de terem recebido o Espírito Santo, partiram para um ministério de ação.

 

Não guardemos a riqueza com as seguranças do passado. Ponhamo-la a render com a esperança de estar mais perto do Reino de Deus que é de todos, para todos e que só ganha sentido com todos.

 

Hoje, antes de voltarmos ao que sempre somos e fazemos, perguntemos: não poderá Deus estar também do outro lado? Do lado que temos medo de ver e de partir?

Nasceu em 1994. Mestre em Psicologia da Educação e do Desenvolvimento Humano. Psicólogo no Gabinete de Atendimento e Apoio ao Estudante e Coordenador da Pastoral Universitária da Escola Superior de Saúde de Santa Maria. Autor da página ©️Pray to Love, onde desbrava um caminho de encontro consigo mesmo, com o outro e com Deus.

 

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