Curados pelo encontro
Esta semana pediram-me para pensar e falar sobre a experiência da cura. Do que é isto de estar ou de nos sentirmos curados.
Num primeiro momento, o convite que me foi dirigido não me parecia fazer muito sentido, porque felizmente nunca passei por uma doença física cujo processo de cura que fosse exigente para mim. É claro que para nós, homens, a cura de uma gripe é sempre uma batalha muito grande, mas penso que para o que me tinha sido pedido isto não conte muito!
Foi então que dei por mim a pensar em toda a minha vida e a tentar perceber quais as vezes e as formas em que este Deus me foi visitando e curando. E percebi que não podia deixar de falar de um episódio que foi marcante na minha vida e essencialmente neste meu percurso de fé. Foi este momento, que mencionei e que também vos irei contar, que tudo se alterou. Costumo brincar, mas de forma muito séria, que neste momento em que fugia d’Ele, foi quando Deus me apanhou mais rápido e de várias formas. De formas que não imaginava.
O primeiro momento foi o de uma lesão no joelho com uma rotura completa do ligamento cruzado anterior. Foi um momento muito marcante e que fez com que questionasse todo o meu percurso, toda a minha fé e fez-me entrar num caminho de crise existencial. A verdade é que a Sua presença foi estando cada vez mais vincada e fui sentindo, em todo o processo de cura, que estava a ser acolhido e abraçado por este Deus.
A verdade é que, quando olhamos para os vários relatos de cura realizados por Jesus, o mais extraordinário que ali é revelado não é a cura física, mas sim o que aquela cura significava na vida de tantos e tantas. Os verdadeiros milagres de Jesus estavam efetivamente na possibilidade de poder recomeçar as vidas. É claro que, para alguns e algumas, o recomeço começava pela cura física, mas a primeira cura, a primeira alteração da sintomatologia na vida de tantos e tantas era o encontro com Aquele que lhes permitia serem olhados, serem acolhidos e serem amados.
É aqui que acho que a cura realmente existe: no encontro. Na relação. Nos milagres que não vemos e que vão acontecendo em tantos momentos das nossas vidas. Quantas vezes fomos curados com a presença de alguém? Quantas vezes fomos curados em abraços? Quantas vezes fomos curados por alguém que apenas nos escutou? Quantas vezes fomos curados e nem reparamos?
Muitos são os momentos em que acreditamos que a cura acontecerá de uma forma mágica e repentina. E é tremendamente legítimo este desejo, porque o é muito humano. Há situações e casos de vida complexos, dolorosos e angustiantes ao ponto de querermos apenas que tudo se renove.
A cura pode acontecer de muitas formas e nós podemos ser efetivamente a cura para tantos e tantas.
Para finalizar, gostava de vos deixar mais umas questões: quantas vezes permitiste que fosses cura de alguém? Quantas vezes te deste de forma inteira a quem mais precisava? Quantas vezes saíste do teu conforto para abraçares o desconforto de tantos?
Espero que esta reflexão que convosco partilho vos tenha inquietado e que isso vos leve a perceber a verdadeira cura que este Jesus dava e continua a dar a todos nós.
Que sejamos testemunhas de uma cura que ganha forma e sentido no encontro puro e inteiro!