«Não preciso da religião para nada…»
«Não preciso da religião para nada no meu dia-a-dia. Não preciso dela para viver e ser feliz na vida.»
Foram precisamente esta palavras que uma conhecida minha me disse. Tal e qual. Gostou imenso do padre que celebrou as exéquias da avó. Muito querido, humano e sensível quando abordou a família no hospital para conhecer melhor aquela familiar. No entanto, na celebração religiosa, as palavras do padre já nada lhe diziam.
Ao ouvir esta confissão, pergunto-me de imediato que testemunho é o meu acerca da fé que digo professar? Onde é que falhamos como cristãos na vivência da fé?
O grande desafio é oferecer a todo o ser humano de hoje um testemunho simples, transparente e credível de uma vida em que o Evangelho permeie toda a experiência pessoal e se torne anúncio do amor que Deus tem por cada um de nós. Devemos procurar traduzir o Evangelho na vida quotidiana. Saber recomeçar todos os dias… Uma intenção diária. Não é fácil! Somos frágeis e pecadores.
A este mês, que se aproxima da sua reta final, chamamos Missionário. Pois, que todos nós cristãos saibamos que a fé no Deus de Jesus Cristo, celebrada nos ritos e na liturgia, realiza-se precisamente na vida quotidiana. Principalmente lá onde, encontramos muitos irmãos e irmãs à margem da vida social.
Nem todos podemos partir para além mar, mas também não necessitamos, porque aqui e agora somos chamados a dar testemunho vivo da nossa fé.
Mas saibamos que quando o serviço caritativo fracassa, o anúncio do Evangelho fica seriamente comprometido, a fé corre o risco de se tornar uma ideologia ou uma piedosa intimidade com um "deus" feito, mais ou menos, à nossa imagem e semelhança.
A concretude da vida, muitas vezes marcada por situações de privação e exclusão, pelo contrário, chama o crente a um compromisso concreto e solidário. O cristão, de facto, é aquele que em nome de Cristo e movido pelo Seu amor arregaça as mangas, trabalhando para aliviar o sofrimento dos seus irmãos e abrir uma porta à esperança nos corações feridos de muitos seres humanos.
Muitas vezes, deixamo-nos envolver pela cultura do efémero, do aparecer, que, inevitavelmente, conduz ao orgulho, à vaidade e à arrogância, ao acreditar-se melhor do que os outros, escondendo-se atrás da fachada de uma religiosidade que se faz compromisso e serviço, mas que apenas se valoriza a si mesmo.
Creio eu, que é aqui que tantas vezes falhamos… Podemos rezar muito. Participar em tríduos e romarias, novenas e peregrinações. Mas não deixamos que Deus transforme a nossa forma de pensar e converta a nossa vida.
O Senhor ilumine os nossos corações e permita-nos fazer escolhas concretas na caridade, para dar testemunho do amor de Jesus Cristo.