A ilusão da liberdade…
Ainda me iludi que a pandemia poderia provocar uma inversão na tendência egoísta da comunidade humana.
Os inúmeros exemplos de solidariedade, principalmente aquela de proximidade - que vimos nascer nos prédios, nos bairros, nas aldeias - iluminaram-me o olhar.
A privação do abraço, do beijo ou do simples cumprimentar, parecia-me revelar a importância das relações sociais, da proximidade comunitária.
Talvez não tenhamos acreditado seriamente no arco-íris das crianças que diziam “vai ficar tudo bem”, porém o voluntariado que apareceu e os gestos de generosidade alimentaram-me esperança.
Assisto diariamente a um individualismo exasperado, uma visão antropológica desequilibrada nas singularidades de cada um, num olhar egocêntrico que se esquece da visão global, comunitária e altruísta.
As redes sociais são disso um grande exemplo. Mensagens extremas que julgam o outro sem um mínimo de empatia. Palavras que se concentram e extremam para cilindrar a opinião daquele que pensa diferente e que não deixam espaço ao outro que não pense da mesma forma. Isto sem querer referir-me à falta de respeito, de escuta e até de bom senso, que muitos revelam. Muitos que se dizem democratas e bons cidadãos.
Quando passo para o campo da fé, a mesma realidade. Já tive que enviar mensagem ou dizer pessoalmente a alguns crentes que ainda bem que é Cristo que nos salva e não um membro da hierarquia ou o alguém da comunidade cristã, por mais santo que seja. A Igreja é o corpo espiritual de Jesus Cristo. A Igreja é Comunidade de Crentes.
Estamos a viver um Sínodo sobre a Sinodalidade da Igreja, e mesmo assim vemos o individualismo exasperado e exasperante a florescer…
Numa sociedade em que queremos a máxima liberdade entendida como a possibilidade de fazer o que queremos, deixamos de lado o sentido de comunidade e a responsabilidade na procura do bem comum.