Viver a vida intensamente…
Na última crónica partilhei que desde jovem aprendi que a Bíblia usa uma linguagem apocalítica que não se refere, necessariamente, ao fim dos tempos, mas à necessidade de viver a vida intensamente. Ao lermos o Evangelho segundo São Lucas deste domingo, percebemos nitidamente esta minha partilha.
Terminamos o ano litúrgico com São Marcos e iniciamos o novo ano, com o evangelho de São Lucas, com o mesmo tema: o fim dos tempos. Em Marcos havia imagens que se referiam ao fim de Jerusalém, destruída no ano 70 d.C. Esta destruição confunde-se, muitas vezes, com as imagens do fim dos tempos. O fim da cidade santa torna-se a imagem antecipatória do fim do mundo.
Em Lucas, que escreve depois de Marcos e após a destruição da cidade santa, os dois eventos são claramente distinguidos e o período de tempo entre o fim da cidade santa e o fim do mundo é prolongado. A passagem do evangelho deste domingo é sobre o fim do mundo.
Mas há algo em comum: tal como em Marcos, também em Lucas o fim das coisas coincide com o encontro final com o Senhor. Os discípulos do Senhor não devem ter medo. A sua libertação está próxima.
Daqui concluímos que, apesar do fim dos tempos ficar cada vez mais distante e incerto, a necessidade de não relaxar enquanto se espera, permanece viva.
Ora é isto que o Advento nos pede: independentemente do tempo que falte para este encontro final com o Senhor, temos que estar atentos aos sinais da Sua vinda! Não podemos afrouxar. Não podemos desanimar. Não podemos relaxar.
Para que isso seja realidade precisamos de nos esvaziar. O Tempo de Advento é a ocasião de deixarmos de lado tudo o que nos impede de ver o Senhor. Não quer dizer que vamos deixar de nos preocupar com o trabalho, fonte do nosso sustento, ou com as nossas relações familiares e sociais, alimento da nossa felicidade terrena, mas ter uma atenção particular a tudo aquilo que permanece para além das tempestades e aventuras humanas.
Toda a simbologia deste tempo, nomeadamente, a coroa do Advento, alertam-nos para a verdadeira luz que ilumina os nossos passos nesta peregrinação que é a vida de cada um de nós.
Tenhamos a coragem de nos agarrar ao essencial.
Tudo o resto é supérfluo.
Não há Black Friday, que nos salve!
Um santo e próspero Advento.