O Vinho da Esperança
Este domingo o padre José Manuel demorou-se um pouco mais no sermão sobre as Bodas de Caná. É uma alegria ouvir homilias destas. Mais do que entrar pelo moralismo, centrou-se na alegria da Boa Nova que é o Evangelho.
Tantas vezes esquecemos o essencial da nossa fé. Jesus inaugura um tempo novo. Abre-nos os horizontes. Enche-nos de renovada esperança.
Neste episódio, que no Evangelho segundo João é o primeiro sinal dos sete que ele narra, o vinho último, o vinho bom é o próprio Jesus Cristo que nos dá. Nós, muitas vezes, temos um comportamento como o chefe de sala. Não sabemos de onde vem este tempo novo. Esquecemos ou deixamo-nos orientar por outros vinhos.
Muitas vezes permanecemos no exterior, nas talhas de água para cumprir com rituais que quase nada nos dizem. "O essencial é invisível aos olhos", já nos diz O Principezinho à muito tempo. Fazemos dificuldade em perceber que a nossa conversão parte de dentro.
Esta passagem das Bodas de Caná, deve ressoar nos nossos corações, sempre que um acontecimento triste, desanimador ou doloroso faça a vida parecer-nos um fracasso; onde toda a alegria desapareça ou a felicidade pareça impossível. Tal como um casamento sem vinho.
Deus preocupa-se com cada um de nós e com nossa alegria. Só precisamos de fazer tudo o que Ele nos disser. Mesmo quando não percebemos, tal como aqueles serventes que encheram as talhas.
O sétimo dos livros que compõem "Os Irmãos Karamazov" de Fiódor Dostoiévski, termina com a morte do monge Zossìma, pai e guia espiritual do jovem protagonista, Aliêksei Fiodorovitch Karamázov. Ele, em sofrido luto, enquanto vela aquele corpo, ouve a passagem evangélica das Bodas de Caná. No final já não é mais o mesmo. O seu luto transformou-se em alegria e profunda gratidão. Sai a correr da cela do monge e atira-se de cabeça para a vida, animado por uma nova energia.
Com o sinal de Caná, abriu-se este novo tempo e renovou-se a esperança.
Que a nossa fé seja assim vivida.