Se o Rayan tivesse morrido de fome?...
A pergunta ainda habita o meu ser desde o desfecho desta história real muito mediatizada. O que é que aconteceria se tivesse morrido no mar mediterrâneo? Ou nas caminhadas que os refugiados fazem por essa África, Médio Oriente e Europa à procura de um futuro melhor? Ou então de paludismo, malária? O que acontece com todas aquelas crianças que morrem sem terem a cobertura das televisões ou das redes sociais?
Segundo os dados mais recentes, todos os anos morrem cerca de 5 milhões de crianças por esse mundo fora, vítimas da fome, de doenças tratáveis ou da guerra. Aliás, são cerca de 500 milhões que vivem em locais de guerra. E há cerca de 30 milhões refugiadas…
Lamento profundamente a morte de Rayan, mas há milhões que o vão seguir se nada fizermos. Se ficarmos à espera de outro furo jornalístico, será este o seu destino…
Dói-me tanta hipocrisia televisionada! Assistimos cada vez mais a estórias emocionantes, mas reais, como se fosse um reality show. Como se fosse uma novela em episódios a que assistimos no sofá depois de jantar… Esta atenção mediática desumaniza-nos, anestesia-nos…
Como cristão, não basta! Onde pára a compaixão? Temos "tantas crianças" ao pé de nós que precisam de ser resgatadas, aqui e agora! Aproxima-se o Dia do Doente, o que fazemos por eles?
"Toda vida humana, única e irrepetível, vale por si mesma, constitui um valor inestimável". É o que o Papa João Paulo II escreveu na encíclica Evangelium vitae em 1995. A nossa atenção, sem menorizar o fim trágico de Rayan, deve estar orientada para todos, principalmente os menos mediatizados que também sofrem nesses poços que a vida se transformou.
Precisamos de gritar bem alto:
"Respeitai, defendei, amai e servi a vida, cada vida, cada vida humana! Somente neste caminho encontrarás justiça, desenvolvimento, liberdade, paz e felicidade!” [Cf. Evangelium Vitae nº101]