O jejum ainda faz sentido?
Como estamos a viver a Quaresma? Como vai o nosso jejum? Com tantas notícias sobre a guerra na europa, podemos andar um pouco perdidos…
Recordei-me de uma reflexão de D. Tonino Bello muito interessante para estes dias. Foi feita em fevereiro de 1989: «Caríssimos, cinzas na cabeça e água nos pés. Entre esses dois ritos, serpenteia o caminho da Quaresma. Uma estrada de, aparentemente, pouco menos de dois metros. Mas, na verdade, muito mais longa e cansativa. Porque se trata de partir da sua própria cabeça para chegar aos pés dos outros».
O Jejum que a Igreja nos propõe não tem qualquer significado em si mesmo. Não é uma dieta. Está associado à oração, da qual ganha força e sobretudo significado, e à caridade como partilha dos bens com os pobres.
Mas o jejum na Quaresma ainda faz sentido? Sorrio só a pensar em quantas formas de "jejum" a sociedade nos impõe, mesmo que seja apenas para manter um corpo perfeito, e que nos submetemos sem questionar…
O jejum com a oração ajuda-nos a dar o devido sentido às coisas, a dar valor ao essencial e a dizer que o homem não vive só de pão, das coisas materiais, mas aspira a muito mais, ao eterno. O jejum alavanca a dimensão espiritual.
São muitos os apetites que às vezes nos condicionam: a gula, o poder, a exterioridade, o ter, as calúnias, as críticas, os conflitos...
Com o jejum e a oração aprendemos a conhecer e moderar estes nossos múltiplos apetites e a disciplinar as nossas relações com os outros e com Deus. Relações estas sempre tentadas pela voracidade, entre as quais esta necessidade de possuir e dominar o outro.
Hoje celebra-se o Dia Mundial da Água, com o tema: "Águas subterrâneas: Tornando o invisível visível”, e é curioso como o jejum e a oração, neste tempo de Quaresma, pretende fazer o mesmo connosco: tornar o outro visível à nossa ação.