Não ao «salve-se quem puder!»

Crónicas 5 abril 2022  •  Tempo de Leitura: 2

O momento que atravessamos é marcado pelo individualismo e por uma alarmante indiferença. Todos nós já o constatamos de perto. Talvez em nós mesmos, na nossa família, no nosso trabalho ou até nas próprias notícias. Se a maior parte das vezes parece ser individual, outras é comunitária, social, e até mesmo política. Mais escandalosa quando é detetada em ambientes eclesiais ou em nós que nos dizemos crentes. 

 

Seja como for, cada um parece atormentado pela preocupação de "salvar a própria pele" ou, no máximo, a da família, ou mesmo a da comunidade. Se isso é compreensível, porque atravessamos uma crise pandémica e também de instabilidade política causada pela guerra na europa, constitui no entanto, um alarme que não deve ser subestimado. Além de expressar o medo quanto ao que o futuro nos reserva, também não é cristão, pois fecha-nos ao que vive ao nosso lado ou procura a nossa ajuda.

 

Não podemos negar que, dada a realidade, o amanhã é realmente assustador, principalmente quando olhamos para as notícias e vemos tanta miséria em tanto lado. O mesmo se passa quando vemos as nossas despesas a aumentar com os mesmos bens. Se é natural preocupar-nos com o amanhã, deixa de o ser se nos fechamos ao outro. Ouso dizer que, muitas das vezes, nem tão pouco é evangélico! Tudo o que nos impeça de viver como irmãos e irmãs, ajudando-nos nas necessidades, solidários uns com os outros, dispostos a dar uma mão quando a vida fica difícil, está longe do Evangelho.

 

O "salve-se quem puder!" não faz parte da mensagem de Jesus Cristo!

 

O exemplo da primeira comunidade cristã é significativo: "Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum; vendiam as suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo  as necessidades de cada um". Cf. Atos 2, 44-45

 

Sabemos que este é um ideal a perseguir. Também sabemos que o nosso coração é capaz de gestos grandiosos de generosidade e, ao mesmo tempo, de egoísmo, mentira e mesquinhez.

 

Somente uma vida de oração é capaz de nos abrir ao outro. A Quaresma é um tempo propício para este regresso ao essencial, ao Evangelho.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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