Viver em compartimentos estanques!
Este ano assisti ao regresso da Visita Pascal. Vários grupos de leigos andaram pela casas da paróquia a anunciar a Boa Nova da Ressurreição de Jesus Cristo. No "recolher do compasso" pensava para mim o quanto seria bom que esta Alegria não esmorecesse ao longo do ano.
Escutamos a Palavra de Deus, vivemos uma vida sacramental, dizemos que cremos no Evangelho, talvez até rezemos muito, no entanto, não mudamos o nosso modo de pensar e a nossa forma de viver.
Receio que tantas vezes temos a ilusão de sermos cristãos, porque não há um envolvimento real da nossa própria existência num caminho de transformação. Falta uma obediência existencial que converta o nosso modo de ser na realidade da vida que altere as nossas relações familiares e as de trabalho. Parece que temos uma vida na igreja e outra no resto dos dias.
É preciso traduzir o Evangelho para a vida quotidiana. Não é fácil, porque todos somos frágeis e pecadores, mas com a graça de Deus podemos tentar segui-lo, colocando os nossos passos nos seus.
O Senhor não quer servos que ofereçam serviços calendarizados, mas amigos com quem partilhar toda a vida. E que esta partilha enriqueça o nosso quotidiano.
A autenticidade da nossa fé reside não tanto nos compromissos que assumimos, ainda que louváveis, mas no estilo com que os vivemos, na forma com que nos relacionamos dentro e fora de casa.
Temos que ser luz e fermento no mundo e não praticantes da cultura do efêmero, do aparecer, que inevitavelmente leva ao orgulho, à vaidade e à arrogância. E que muitas vezes leva-nos a acreditar que somos melhores do que os outros, escondendo-nos atrás da fachada de uma religiosidade que se faz compromisso e serviço, mas que no fundo só nos engrandece a nós mesmos e o nosso orgulho.
Quem acolhe Jesus não acolhe um deus qualquer para acreditar, mas o Filho de Deus que encarnou, fez-se homem, morreu e ressuscitou por nós, para nos salvar. E nesta sua encarnação disse-nos qual o caminho para nos tornarmos plenamente humanos. Olhando para Ele sabemos qual é o sentido a percorrer: não o de uma religiosidade camuflada, mas de uma vida partilhada com Ele e com todos os outros seres humanos.
Esta é a Alegria da Páscoa!