Qual o futuro da Igreja?
Qual o futuro da Igreja? Certamente todos nós, crentes e não crentes, nos questionamos sobre o futuro da Igreja Católica. Uns com preocupação, outros com espírito profético e outros tantos desejosos para que seja o seu fim.
A Igreja não vive claramente tempos fáceis. Têm surgido imensas polémicas e crimes sexuais no seu meio, há um clericalismo enraizado e existe a demonstração de uma falta de proximidade com as pessoas, especificamente com os jovens.
A Igreja, no passado, sempre passou por crises que não foram nem melhores, nem piores que as atuais. Infelizmente não são poucos os episódios que mancham o nome da Igreja e, na verdade, o que a vai mantendo firme e Santa é a atuação do Espírito Santo sobre a mesma. Aliás, só assim poderia ser, porque está mais do que comprovado que nas mãos dos homens e mulheres já se teria extinguido há muito.
No entanto, a Igreja (e falo de todos e todas, dos/as consagrados/as aos/às leigos/as) não pode apenas viver sabendo que, independentemente do que aconteça, o Espírito Santo a vai sustentando. Tem de permitir que efetivamente o Espírito Santo atue e renove a Sua Igreja. E renovar não significa colocar de parte o passado e rejeitar o tradicionalismo, mas também não deve ter o propósito de abraçar um liberalismo anárquico. A Igreja precisa de apresentar a Palavra estando no Mundo, porque quer queiramos, quer não, o Reino de Deus constrói-se aqui. Com as nossas vidas. Com a nossa liberdade. Com o que somos e temos. E, para isso, é necessário que a mesma consiga acompanhar o avançar dos tempos.
A Igreja, no meu ponto de vista, deve arriscar e caminhar sobre as águas agitadas da incerteza do seu futuro. Não se pode refugiar, ignorando as novas realidades e as novas periferias. Deve conseguir arriscar como Jesus e fazer o mais difícil: ser construtora de pontes, ser casa aberta e com tudo isto encontrar o equilíbrio para que todos e todas se sintam em casa. Deve ser hospital de campanha, como tantas vezes o nosso Papa Francisco referiu, mas também deve ser casa de repouso e não casa de condenação.
Mas então qual o futuro da Igreja? O que significa enfrentar as novas realidades? Significa que se passará a aceitar tudo? Significa aceitar que as Eucaristias estão obsoletas e que serão radicalmente alteradas? Significa que a entrada de mais mulheres no poder será sinal do fim da Igreja? Será que seremos menos fiéis à Sua Palavra aceitando todos e todas independentemente da sua orientação sexual? Significa que será necessário mudar a formação de consagrados e consagradas para que que se previna as polémicas e os crimes sexuais na Igreja?
Penso que cada questão merece a devida atenção. Seguiremos então cada uma delas. Primeiramente, a Igreja deve conseguir centrar-se no Evangelho e, na falta de respostas, procurar interpretar os sinais de Deus sem cair numa visão monocromática. A diversidade criada e oferecida por Deus não pode ser respondida unicamente com uma única interpretação e muito menos deve ser lida através de proibições ou tomadas de decisões baseadas em extremismos. Como tal, não se passará a aceitar tudo, mas também não poderemos continuar com as portas fechadas como se possuíssemos uma Verdade que cabe somente a alguns. A história de vida de cada um e de cada uma deve ser vista à Luz da Ressurreição e essa mesma luz percorre todo o espectro de cores, pois a vivência de cada um/a é irrepetível e inigualável.
No que toca às Eucaristias, talvez fosse tempo de escutarmos todos, desde os mais velhos aos mais jovens, e juntos conseguirmos entender qual a beleza e o significado da Eucaristia. Será descabido que a mesma sofra mudanças? Perder-se-ia dignidade com cânticos mais alegres e com homílias mais próximas da nossa realidade? Seria alguma heresia introduzir atualizações nos gestos e rituais ou daríamos maior significado à vivência da Eucaristia?
A igualdade na Igreja é também algo que deve ser discutido com seriedade, sem anular a sua história e sem confundir papéis, mas a Igreja precisa também da mulher no centro das decisões. Precisa da igualdade para que não se caia no poder podre, nem na prepotência desmedida. Precisa da sua inteligência, da sua capacidade de olhar com as entranhas e de comandar com assertividade. Seria isto prejudicial à Igreja? Ou torná-la-ia Mãe como tantas vezes desejamos?
E que lugar têm os jovens e adultos da comunidade LGBTQIA+ na nossa Igreja e nas nossas comunidades? E os seus pais e mães? Temos a verdadeira atitude de receber, escutar e amar? Ou facilmente caímos no julgamento intitulando-os de pecadores? Uma Igreja fundada em Cristo deve conseguir construir pontes, deve saber acolher os que se encontram nas periferias e, com amor, abraçar as suas questões, dores e angústias.
E, por último, a formação de consagrados e consagradas. Seria muito benéfico e saudável, que a formação de todos os que se entregam pudesse ter uma maior diversidade e, acima de tudo, uma oferta na formação e desenvolvimento psicossexual, onde a Psicologia poderia andar de mãos dadas para que homens e mulheres pudessem crescer na sua totalidade. Seria ainda proveitoso que todos e todas pudessem experienciar a humanidade de perto, através do voluntariado, do associativismo, ou até mesmo de hobbies, para que depois de ordenados conseguissem interpretar a realidade da condição humana e, assim, relacionar-se de uma forma mais humana e misericordiosa junto de tantos e tantas que os procuram.
A Igreja precisa de se abrir. E precisa de gente que tenha a coragem de ser missionária e profética dando voz ao amor e ao sonho de Jesus: uma Igreja que é feita de erguidos e de "erguedores", onde no fim o que conta não é a lei ou o poder, mas a misericórdia e a aliança com Deus.
Espero que no futuro a Igreja avance e que continue a ser reflexo de Deus na Terra. E, apesar de todas as visões e questões apresentadas por mim, não quero uma Igreja à minha imagem, mas sim um Igreja Mãe que caminha lado a lado, que sente as dores e as preocupações de todos e todas e que se molda para não se desviar do essencial: apresentar e ser como o seu amado, Jesus Cristo.