Não podemos, nem devemos, silenciar…
Uma premissa para esta minha reflexão: a pedofilia é um crime hediondo! Independentemente de quem o pratique, é-me profundamente repugnante. Como disse, várias vezes o Papa Francisco: uma doença.
No último fim de semana foi, mais uma vez, notícia o psiquiatra Pedro Strecht e a pedofilia na Igreja. Desta vez incidiu na ilha da Madeira. Honestamente, cansa-me esta novela mediática, onde abunda a maledicência e superabunda uma espécie de ódio à Igreja Católica.
Seria importante conhecer os dados gerais a nível global, e depois a nível europeu, asiático, americano, africano e oceânico, para dar uma ideia da gravidade e profundidade deste flagelo nas nossas sociedades. A primeira verdade que emerge dos dados disponíveis é que quem comete os abusos, ou seja, a violência física, sexual ou emocional são sobretudo os pais, familiares, homens que casam com crianças, treinadores e educadores, etc.
Além disso, de acordo com dados do UNICEF nos últimos anos, em cerca de 10 meninas que tiveram relações sexuais forçadas, 9 revelam que foram vítimas de uma pessoa conhecida ou próxima da família. De acordo com dados oficiais do governo dos EUA, mais de 700.000 crianças são vítimas de violência e maus-tratos todos os anos, e de acordo com o Centro Internacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas (ICMEC), uma em cada 10 crianças é abusada sexualmente. Na Europa, 18 milhões de crianças são vítimas de abuso sexual.
É verdade que esta violência não ocorre apenas no ambiente doméstico, mas também nos lugares próximos da residência, na escola, no desporto e também, infelizmente, na Igreja.
Para mim, para nós crentes, surgem uma série de questões totalmente legítimas: por que é que se esperou tanto tempo para se denunciar este fenómeno e se preferiu calar? Por que é que não foi possível deter previamente esta praga que atingiu a Igreja de forma tão violenta e dramática?...
Por estas atitudes é que Francisco já vem há muito tempo a dizer, e com razão, que não fomos bons guardiões dos menores que nos foram confiados.
No entanto, se o drama da pedofilia pode ter afastado muita gente da Igreja, o que é completamente compreensível com a deceção que o escândalo causou, não podemos, nem devemos, generalizar e dizer que todos os sacerdotes e religiosos são pedófilos. Afirmar isso é esquecer todo o bem que as mulheres e os homens da Igreja fizeram e fazem em todas as áreas, da educação à assistência, envolvendo crianças, jovens, adultos e idosos.
Não podemos, nem devemos, silenciar o trabalho incansável de sacerdotes, missionários, leigos que dão a vida pelo Evangelho e para promover o crescimento e a dignidade de cada pessoa.
O mal faz mais barulho do que o bem e, em particular, o que aflige a Igreja, muitas vezes é explorado e ampliado. Vivi durante 16 anos num seminário, dos 11 aos 27, passando por 4 casas; convivi com centenas de padres, religiosos e religiosas, aspirantes e candidatos à vida sacerdotal e consagrada e não sofri desta praga.