Como viver na certeza da incerteza?
A nossa fé é, muitas vezes, colocada em causa. Muitos perguntam-nos o porquê de acreditarmos neste Deus revelado por Jesus Cristo e não em tantos outros. Questionam-nos o porquê de ter vivido num determinado tempo e ter passado por apenas algumas regiões do Médio Oriente. Desafiam-nos sobre a incoerência e a hipocrisia existente na religião. Falam-nos, ironicamente, de algumas Escrituras e dos milagres feitos por Jesus Cristo e ainda se riem (como no tempo d'Ele) de ter passado a maior parte do tempo a comer e a beber. E, claro, questionam-nos sobre o porquê de acreditarmos em algo que já tem tantos e tantos anos.
Nos últimos tempos, tenho aprendido a viver com estes desafios, com estas interrogações. Deixo-as habitar em mim. E, em muitas delas, sem ter uma resposta permito que a provocação me leve à pesquisa e à reflexão. No entanto, já não caio no erro que cometia na adolescência. Não vivo sedento por uma justificação para tudo, nem muito menos de uma total certeza racional da existência de Deus para que a minha fé não viva de incertezas. Agora permito que a incerteza seja a minha maior certeza. Isto é, a minha fé, mais do que construída pela certeza revelada na Palavra, na minha relação com Deus e na revelação de Deus por aqueles que se cruzam comigo, é uma fé que habita a incerteza e que me permite, de forma mais íntima, viver este mesmo mistério.
Gosto sempre de recordar as palavras de um bom amigo: "A fé não é para ser resolvida, mas sim para ser arriscada, atravessada.". E, para mim, isto faz todo o sentido. A fé, tal como o Deus em que acredito, viveu e vive o concreto da vida, da minha vida. Como tal, a fé não precisa de uma total certeza, mas sim de uma total entrega sabendo que nunca, até ao fim dos meus dias, conseguirei dar respostas a todas as inquietações, a todas dúvidas ou provocações. Desta forma, só consigo conceber a existência da fé se nela incluir tudo o que sou e faço, se nela incluir o que sei, o que virei a saber e o que nunca conseguirei saber.
Ter fé e, de forma mais particular, ter fé em Jesus Cristo é acreditar num Deus que habita o concreto. E isso abre a porta ao desconhecido. Jesus apresenta-nos o Deus que, sendo desconhecido, se dá a conhecer em tudo e em todos. Na verdadeira humanidade, na partilha, na comunhão à volta da comida e da bebida e no poder do amor capaz de erguer os que jamais seriam erguidos e de realizar milagres que jamais poderão ser compreendidos.
Esta é a minha fé, cheia de nada, mas preenchida pela sedente busca d'Aquele que me é tudo!