A ponte do Emanuel...
Todos sabemos que a nossa sociedade é consumista. Mesmo em tempo de crise, obriga-nos a dar muita atenção à exterioridade, à imagem; cria necessidades a satisfazer; fecha-nos em ambientes abafados onde não fazemos, ou não queremos fazer, perguntas sobre o sentido de tudo o que vivemos e fazemos.
Porém, e ao contrário do que tanto se lê por aí, não creio que esta época seja um tempo de muita hipocrisia. O Natal reacende os bons sentimentos e os afetos procuram formas simples para se exprimirem. É uma altura em que nos tornamos melhores, mais generosos, onde a solidariedade e a proximidade aumenta. Vamos ao encontro dos familiares. Crentes e não-crentes têm sentimentos de humanidade e proximidade.
O ambiente das festas natalícias só corre o risco de nos desviar do significado profundo que celebramos, o mistério da Encarnação do Filho de Deus, se nós o deixarmos. Se ficarmos apenas pelo exterior, pelo ambiente de festa, pelas prendas partilhadas e esquecermos o protagonista deste acontecimento, Jesus, cairemos nessa hipocrisia que o consumo tanto quer. Ouso dizer que, mesmo que participemos na missa de Natal, aquele Deus Menino não transformará a nossa vida porque não será verdadeiramente acolhido. Tudo continuará como antes.
Nestes últimos dias de Advento questionemos-nos: como é que este Natal nos encontrará? Como é que ele alimenta a nossa fé? Como é que nos deixamos tocar pela memória, renovada todos os dias na Eucaristia, de um Deus que se faz carne, pão para chegar até nós e assim nos salvar e estar connosco?
Deixo as palavras do monge cisterciense, Santo Aelredo de Rievaulx (1110-1167):
«”Emanuel, que que quer dizer Deus connosco”. Sim, Deus connosco! Até aqui era Deus acima de nós, Deus diante de nós, mas hoje Ele é “Emanuel”. Hoje, Ele é Deus connosco na nossa natureza e connosco na sua graça; connosco na nossa fraqueza e connosco na sua bondade; connosco na nossa miséria e connosco na sua misericórdia; connosco por amor, connosco por laços de família, connosco por ternura, connosco por compaixão.»
Sermão 9, Anunciação do Senhor
Votos de um Santo Natal!