Não se vive de luz e sal, mas não se vive sem sal e sem luz.

Crónicas 7 fevereiro 2023  •  Tempo de Leitura: 4

Sempre provocantes estas palavras de Jesus: “Vós sois o sal da Terra... Vós sois a luz do mundo.” Sempre que as leio ou as ouço, estremeço. Tão grande a exigência do batismo! Tão sério o testemunho que o cristão tem de dar!

 

Jesus usa a imagem do sal e da luz, porque: 1º o sal, que dá sabor aos alimentos e os conserva, na tradição judaica é símbolo de sabedoria: «A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.» (Colossenses 4, 6) ; em outros contextos, o sal é derramado sobre a oferta de sacrifícios rituais: «Temperarás com sal toda oblação da tua oferta de cereais e não deixarás  faltar à tua oferta de cereais o sal da aliança do teu Deus. Com todas  as tuas oblações oferecerás sal.» (Levítico 2, 13). O sal é útil de variadas formas, como é significativo, de outras tantas. Jesus, com a sua afirmação, quer dizer que o sal, tão útil, se, a certa altura, perde o sabor, torna-se inútil e só pode ser deitado fora e pisado pelos homens.

 

2º a luz serve, antes de mais, é imagem de Deus e daquilo que lhe diz respeito diretamente: a palavra, a Lei, o templo, a cidade de Jerusalém. «Muitos perguntam: "Quem nos fará desfrutar o bem?" Faz, ó Senhor, resplandecer sobre nós a luz do teu rosto!» (Salmo 4, 6); «O Senhor é a minha luz e a minha salvação, de quem terei medo? O Senhor defende a minha vida, a quem temerei?» (Salmo 27, 1). A propósito de Jerusalém, é célebre o texto de Isaías: «Levanta-te, resplandece, porque vem a tua luz, a glória do Senhor brilha sobre ti. Pois eis que as trevas cobrem a terra, a escuridão envolve as nações, mas sobre ti brilha o Senhor, sobre ti aparece a sua glória. As nações caminharão à tua luz, os reis no clarão do teu sol nascente». (Isaías 60, 1-3)

 

Portanto, a luz deve brilhar e o sal deve dar sabor. Assim, a vida do discípulo deve tornar-se transparente e luminosa e anunciar, com o sabor das próprias ações, a presença do Reino.

 

Perante as reações de tantos cristãos aos palco-altar. Perante a instrumentalização que tanto cristão faz do Papa Bento XVI, só para pôr em causa o Papa Francisco. Perante tanto saudosismo de uma igreja medieval, piramidal, autossuficiente... Questiono-me: somos ainda sal e luz?

 

Não se vive de luz e sal, mas não se vive sem sal e sem luz. O sal e a luz tornam útil e utilizável tudo o que tocam. A luz não cria o que mostra e o sal não cria o que saboreia. A luz permite-nos ver, tranquiliza-nos quando temos medo, basta ver as crianças. Portanto, torna o mundo belo. O sal dá sabor, evita a corrupção dos alimentos, estimula a sede, derrete a neve e permite que as pessoas caminhem. Os cristãos são sal e luz precisamente porque se põem ao serviço daquilo que de belo encontram nos homens. Acima de tudo, estão ao serviço das relações, tornam-nas possíveis quando não existem, tornam-nas belas quando já existem. 

 

Façamos parte das soluções e não dos problemas, caso contrário, seremos pisados pelos homens...

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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