Que é feito do Eu, Tu e Nós?
Cá estamos no “Dia dos Namorados”. É preciso fazer do dia de São Valentim, um dia especial! Com crise ou sem crise, este é o dia mais importante do ano para o amor. Ninguém quer ser apanhado desprevenido. E então cada um arranja-se como pode. Há quem se satisfaça com o clássico ramo de flores ou uma caixa de chocolates. Há que aspire a algo mais e avance para um jantar romântico ou uns dias a dois...
Mas como é que São Valentim se tornou o santo padroeiro dos enamorados? As raízes desta perderam-se no tempo. Poucos sabem que a festa – hoje uma das mais populares do mundo, sobretudo por motivos comerciais – nasceu para se opor a certas festas romanas um pouco libertinas, a Lupercalia, celebradas precisamente entre os dias 13 e 15 de fevereiro. Na origem está a figura de um bispo que viveu em Terni, no século III depois de Cristo, famoso pelos seus milagres.
Conta a lenda, que o bispo Valentim zelava pelo amor de dois noivos, Sabino e Serapia: ele pagão, centurião romano e ela cristã. Ele converteu-se ao cristianismo, mas a família de Serapia era contra a união com Sabino. Porém, pouco depois, descobriu-se que ela estava gravemente doente. Chamado pelo centurião ao leito da moribunda, o bispo abençoou o casamento e rezou para que o amor deles fosse eterno, e ambos caíram em sono profundo. Mais tarde, os seus ossos foram encontrados dispostos como se os dois corpos tivessem permanecido abraçados mesmo no momento do enterro.
Falar hoje de enamoramento é abordar uma panóplia de iniciativas, mais ou menos comerciais, mais ou menos melosas, mas sobretudo e decididamente tragicómicas. Sim, porque o amor romântico, no tempo da pós-modernidade, oscila entre dois extremos: por um lado, o modelo proposto por programas tipo “Quem quer casar com o agricultor” e, por outro, o de aplicações como o Tinder ou similares.
Na minha opinião o amor romântico, aquele verdadeiro, está gravemente doente, diria mesmo que está a morrer e o São Valentim no tempo desta televisão e destas aplicações, praticamente celebra o seu funeral. Onde anda o ser, o ser com, o ser para? Onde está o caminho que se constrói do EU para o TU, para chegar a um NÓS? Onde está o caminho que nos abre à generosidade, à criatividade, à doação?
Em 2014, num encontro com milhares de enamorados que encheram a Praça de São Pedro, o Papa Francisco propôs três palavras para este caminho: Permissão, Obrigado, Desculpe.
Quem gosta de caminhadas sabe que antes de mais é preciso ter coragem de partir, de dar o primeiro passo. Assim também devem fazer dois jovens apaixonados, que decidem aproximar-se, cada um com sua bagagem, para tentar trilhar um caminho juntos. O caminho, porém, nem sempre é plano, pelo contrário, muitas vezes é a subir. Há momentos em que é realmente difícil com tantos obstáculos internos e/ou externos. Se cada um continuar no seu ritmo, correm o risco de se perderem de vista, de se dividirem lentamente até nunca mais encontrarem-se. Por outro lado, se esperarem e se apoiarem um ao outro, a caminhada será certamente mais fácil.
E é possível o para sempre como nos propõe o matrimónio católico?
Se nos limitarmos a pensar apenas na nossa humanidade, talvez isso seja realmente impossível. O amor que une um casal cristão, porém, é um dom que vem de Deus. Ele compromete-se a guardar e proteger, contanto que tenhamos a coragem de lho entregar.
É como se, na nossa caminhada conjugal, recebêssemos de presente uma parka que nos protege do frio e da chuva. Cabe a nós tentar mantê-la e não tirá-la, principalmente quando as coisas ficam difíceis.