De que vale a Quaresma?
O que é que o outro procura que eu não consigo ver?
O que é que o outro sofre que eu não consigo sentir?
O que é que o outro vive que eu nem sou capaz de imaginar?
O que é que o outro experiencia que eu não sou capaz de compreender?
O caminho quaresmal que iniciámos deveria ser propício para um olhar interior, mas acima de tudo para uma vivência atenta àqueles e aquelas que me rodeiam. De que me vale o jejum se não for capaz de atender às necessidades dos outros? De que me vale a esmola se não olho para os que a recebem? De que me vale a oração se não crio oportunidades para que a diferença aconteça?
A espiritualidade cristã e a exigência que ela nos pede, não permite que a vivência dos diferentes tempos litúrgicos sejam alheados da realidade, do concreto do quotidiano. Isto é, eu só posso atravessar o deserto deste tempo se experienciar o deserto que habita em mim, mas também o dos outros. Eu só percebo o que é abstinência e jejum, se souber o impacto que a falta de alimento tem para aqueles que vivem da boa vontade de tantos e tantas. Eu só consigo perceber a importância da esmola e da oração, se eu colocar a minha vida como total entrega e me desprender das minhas comodidades.
Se isto é fácil? Não. E digo-o primeiramente a mim. No entanto, acredito que a vivência da nossa fé precisa de um contacto real com a vida. Precisamos de ser mesa que acolhe todos e pão que, repartindo-se, alimenta todos os que nos procuram. Nesta Quaresma, mais do que encontrar resposta às minhas questões, devo ter conhecimento das questões que inquietam e angustiam tantos homens e mulheres.
Hoje, antes de te dedicares a todos os preceitos, pergunta-te: quão real é a vivência da minha fé?