O que fará a Igreja com as suas cinzas?
O que fará a Igreja com as suas cinzas? Nos últimos dias, após a apresentação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, ficou a sensação de que surgiria uma nova era. Parecia estar tudo alinhado para que, em conjunto, fossem dadas provas de credibilidade por parte de uma instituição que durante anos foi ignorando e camuflando vários episódios escandalosos. No entanto, as mais recentes declarações por parte dos seus superiores hierárquicos, parecem ser muito mais um assobiar para o lado do que um sopro vivificante direcionado para as suas cinzas.
O que fará a Igreja com as suas cinzas? O lume novo que, no Sábado Santo (Vigília Pascal), nos dá esperança e nos dá vida, pode muito bem surgir destas cinzas que agora assentam sobre a Igreja. E como? Talvez começando por uma comunicação empática, onde não são feitas declarações de ânimo leve. Sem desvalorização dos testemunhos, ou criando a ideia de que nada pode ser feito.
Das cinzas poderá surgir um lume novo, mas para isso a Igreja terá de ter a humildade de pedir perdão. Um perdão que se manifeste em ações concretas. Através de medidas de prevenção, de suspensões de sacerdócio, de afastamento de Bispos que tenham colaborado com o encobrimento. Com o que tiver de ser feito para que seja possível recomeçar. Devagar, mas purificada. Devagar, mas arejada. Devagar, mas sustentada na verdade e na autenticidade.
O que fará a Igreja com as suas cinzas? Espero que tenha a audácia de as usar como base do seu lume novo e se torne, finalmente, luz que acolhe os mais vulneráveis e que ilumina as suas sombras.
O que fará a Igreja com as suas cinzas? Espero que tenha a capacidade de se reconstruir olhando de frente os seus pecados.
O que fará a Igreja com as suas cinzas?
Espero que tenha a coragem de finalmente ser coerente e libertadora como o Evangelho do Seu amado.