Não guardas o Domingo? Não vens de Deus!

Crónicas 21 março 2023  •  Tempo de Leitura: 3

Penso que muitos de nós, tal como alguns fariseus no tempo de Jesus, permanecemos no pecado. No Evangelho deste domingo ficamos agarrados à cura do cego de nascença. Ainda esperamos que o Cristo que acreditamos altere a nossa vida num passo de magia. Mas o texto diz-nos muito mais...

 

Quando ouço a proclamação deste trecho, a frase que mais ecoa no meu coração é a seguinte: «Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado».

 

A sociedade em que vivemos – tenho receio de chamar-lhe comunidade - em que estamos imersos é marcada por uma cultura da morte que se manifesta através da indiferença, da exclusão, da violência, do abandono e da solidão. Esta frase pronunciada pelos fariseus é sinal disto mesmo.

 

É verdade que é sábado. Os judeus, quanto mais devotos, mais rigorosamente observavam o sábado como tempo reservado exclusivamente a Deus, e por isso impõem a mais absoluta proibição de trabalhar. Mas Jesus, para curar o cego, fez lodo. Portanto, ele trabalhou e, consequentemente, transgrediu o mandamento de descansar no dia de sábado.

 

Imediatamente a comunidade local, que se reúne na sinagoga, inicia um julgamento. Os pais do homem são chamados para testemunhar. Estes sentem-se ultrapassados pelos factos e refugiam-se numa prudente neutralidade: «Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós». Além do homem curado, ninguém é capaz de ir além dos factos. Não conseguem ver algo mais que a simples cura física... No final, os fariseus expulsam da sinagoga o pecador que não reconhece Deus. Ou seja, o deus que eles conhecem.

 

E quantas vezes somos nós assim? Quando vejo as nossas reações ao escândalo da pedofilia na igreja e tratamos logo de anunciar que o Deus daqueles, não é o nosso deus, não caímos no mesmo erro dos fariseus?

 

Sem dúvida que no Evangelho se trata de uma cura e aqui não. Claro que devemos condenar qualquer tipo de violação! Claro que é um crime hediondo! Claro que devemos procurar banir do meio da nossa sociedade esta aberração! Claro que devem ser punidos perante a lei civil e canónica! Claro que não nos podemos calar e deixar andar! Mas...

 

A atitude não será idêntica no uso do nosso deus individual? De quantos ouvi a decisão ou justificação de abandono da Igreja?! Mas...

 

Procuramos ver os nossos erros pessoais? Procuramos olhar para as violações ao Amor de Deus que nós próprios cometemos? Procuramos escutar as vítimas que fazemos no nosso quotidiano? Procuramos ir ao encontro dos que mais sofrem nas nossas comunidades?

 

Porém, para Jesus, aquele dia, aquele sábado serve para manifestar a glória de Deus. Um dia que deveria ser dedicado exclusivamente a Ele...

 

Façamos nós também!

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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