Um brilho rompe a escuridão e anuncia um novo começo!

Crónicas 4 abril 2023  •  Tempo de Leitura: 4

Na história da Igreja, a Páscoa foi a única festa anual até ao final do século III. A celebração litúrgica mais importante para os cristãos é aquela em que se faz memória da Paixão, da Morte e da Ressurreição de Cristo, que é evangelicamente o centro da nossa fé: «Se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé», escreveu São Paulo. (Cf. 1 Coríntios 15, 14)

 

E isso significa que não só a Páscoa, mas todas as celebrações têm no seu centro o mistério pascal da vida de Cristo e referem-se ao desígnio salvífico do Pai, que salvou a humanidade enviando o seu Filho para nos resgatar. Neste sentido, a Páscoa e todos os ritos da Semana Santa são o acontecimento central do ano litúrgico e da nossa vida cristã. 

 

Nestes dias, o povo cristão também celebra com atenção, intenção e emoção a Via Sacra. É a celebração por excelência da Quaresma, bem como a Procissão do Senhor dos Passos (= Paixão). Desde a Idade Média, que os ritos da Semana Santa foram um estímulo à religiosidade popular, principalmente porque o povo não entendia o latim. 

 

A Via Sacra faz-nos refletir sobre o valor redentor do sofrimento. Na atualidade vivemos uma cultura que pretende anestesiar a nossa consciência, ou pretende distanciar, ocultar e afastar o sofrimento e a morte do quotidiano. Neste contexto sociocultural, fundamentalmente concentrado na produtividade, assistimos a um lento e progressivo processo de desintegração da vida humana, que chega a tornar inumano o que resta de humano. Vivemos quase numa esquizofrenia: por um lado, a cultura da utilidade e da produtividade tende a esconder a morte, o sofrimento e seus sinais, como a velhice, por outro, faz espetáculo mediático do sofrimento e da morte com todo o seu realismo, porque dá audiências...

 

O cristão, pelo contrário, sabe que o sofrimento e a morte são sinais proféticos, cheios de sentido, precisamente graças ao mistério pascal de Cristo. Quando o sofrimento e a morte se fecham em si mesmos, levam ao desespero, mas se se abrem a um horizonte de vida, abrem-se à esperança. E o horizonte é a vida eterna, aquela vida inaugurada pelo Crucificado e Ressuscitado, que não é por acaso que ressurge com o próprio corpo, glorioso e, ao mesmo tempo, marcado pelo sofrimento.

 

A vida de todos e cada um de nós é também esta Via Sacra. Nem sempre é alegria e festa. Aliás, tantas vezes é nesta dureza da paixão que encontramos o verdadeiro sentido da nossa peregrinação...

 

Nesta última semana chegaram-me tantas notícias de amigos e conhecidos que vivem agora a sua Via Crucis. A eles e a todos aqueles que se encontram a percorrer as estações do caminho do Calvário, quero terminar este texto com uma catequese do Papa Francisco na Semana Santa de 2015:

 

«Às vezes a escuridão da noite parece penetrar na alma. Às vezes pensamos: agora não há mais nada a fazer, e o coração não encontra mais forças para amar... Mas é precisamente naquela escuridão que Cristo acende o fogo do amor de Deus: um brilho rompe a escuridão e anuncia um novo começo, algo que se inicia. Na mais profunda escuridão, sabemos que a noite é mais noite e a escuridão é mais escura pouco antes de o dia começar. Mas precisamente naquela escuridão é Cristo quem vence, quem acende o fogo do amor».

 

Votos de uma Santa Páscoa.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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