Conto: «O autocarro do bom humor»
Era uma vez uma rapariga que todos os dias tinha de apanhar o autocarro para ir trabalhar. Como vivia numa aldeia afastada quase vinte quilómetros da cidade onde tinha o seu emprego, a viagem era sempre muito aborrecida e cansativa e, na maior parte das vezes, ia a pensar na morte da bezerra ou de olhos fechados a passar pelas brasas. Raramente esboçava um sorriso e nunca falava com ninguém. Aliás, intrigava-a que a viagem para algumas pessoas fosse tão animada e até se irritava com as cantorias e algazarra que faziam com frequência.
Um dia, atreveu-se a meter conversa com uma senhora que ia do outro lado do autocarro e perguntou-lhe qual era a razão da habitual boa disposição daqueles passageiros, quando a viagem para ela era chata, tristonha e um verdadeiro pesadelo. A senhora sorriu e disse-lhe:
- Por acaso já tínhamos comentado entre nós que no autocarro nunca escolhias o lado mais bonito da paisagem e enquanto nós vemos das janelas deste lado o sol a nascer, o casario branco das aldeias, os campos verdejantes e cheios de flores e os passarinhos a esvoaçar pelos céus, da tua janela só vês os rochedos frios e sombrios da montanha esventrada para fazer a estrada que nos leva para a cidade. E o engraçado é que se fosses do mesmo lado do autocarro à ida e à vinda dar-te-ias conta dos dois cenários tão diferentes, mas como, ao contrário de nós, mudas sempre de lado, continuas a ver sempre a mesma paisagem enfadonha, desoladora e deprimente.
A rapariga estava admirada pois nunca se tinha dado conta do que a senhora acabara de lhe dizer. Então, decidiu passar a ir do lado do autocarro em que iam aquelas pessoas que todos os dias iam divertidas e alegres e que nem parecia que iam e vinham de trabalhar e começou a conviver com elas. Um dia, a sua nova amiga disse-lhe:
- Sabes, o bom humor é uma atitude de vida que nos ajuda a olhar para as coisas com mais otimismo e esperança. O nosso dia-a-dia fica bem mais positivo, bonito e leve com umas pitadas de bom senso e bom humor pois eu acho que levamos a vida demasiadamente a sério e isso torna-nos ansiosos e aborrecidos. O bom humor não é apenas um estado de espírito, mas a maneira mais equilibrada de enfrentar as dificuldades. É um estilo de vida que revela maturidade, bom senso e inteligência.
Noutro dia explicou-lhe que os otimistas e com bom humor viam o copo meio cheio e que os pessimistas e de mau humor apenas viam o copo meio vazio. Era uma questão de atitude olhar para o que faltava ou para o que se tinha e não eram as situações que nos roubavam a felicidade e a paz, mas a forma como reagíamos a elas. E disse:
- O bom humor oferece mais alegria, boa disposição, paz e felicidade do que o dinheiro e as coisas materiais. A felicidade é uma questão de atitude e a verdade é que, por vezes, tropeçamos e caímos, mas rirmo-nos de nós mesmos com amor e humor, ajuda-nos a levantar e avançar com maior determinação e entusiasmo. O bom humor faz a existência bem mais tolerável e suportável, desarma qualquer um e tempera a existência e os nossos relacionamentos com os outros. O bom humor faz tudo parecer mais airoso e fácil e pode ser o melhor caminho para aceitar aquilo que não pode ser mudado.
A cada dia que passava, a rapariga demonstrava cada vez mais alegria e bom humor e até gracejava dizendo que quando a vida lhe mostrasse os dentes, haveria de sorrir pois os seus dentes eram muito mais brilhantes, que se caísse num poço, em vez de desesperar enquanto esbracejava para não se afogar, haveria de flutuar e assobiar enquanto esperava por socorro e que se a vida lhe oferecesse limões azedos, o que iria fazer era uma boa limonada. Então, a amiga disse-lhe:
- O bom humor é a roupa mais elegante que podemos usar e um sorriso pode ser o melhor presente que podemos oferecer. Provocar um sorriso ou uma gargalhada é fazer magia e deveríamos contagiar sempre as pessoas com o nosso bom humor. Acredito que o dia mais inútil é aquele em que não sorrimos nem nos rimos e que estar bem-disposto dá saúde ao corpo e à alma. Parabéns pela tua descoberta e mudança.