Voltar a Ser Criança
No final da tarde de ontem, por diversas razões, precisava de descontrair um pouco. Eis que recebo o telefonema de um dos amigos mais chegados que tenho por Lisboa: «Paulo, a minha mulher tardará para jantar. Não queres vir cá a casa beber um copo de vinho e provar um croquete? Só para colocar a conversa em dia?» Deus está presente na nossa vida. Não tenho dúvidas! Por vezes, a poeira dos dias é que não nos deixa vê-Lo.
Estava sem tema para esta crónica. O cansaço turva a clareza dos pensamentos e afrouxa a vontade. Este casal preside a uma família numerosa. O choro da mais nova por fome ou sono, bebé com menos de um ano, já não perturba por aí além o pai. Aprendizagens consolidadas...
É esta mundivisão que me inspira para esta reflexão.
Nos últimos domingos tenho assistido a uma multidão de crianças na celebração eucarística em que participo. Se por um lado, preenche-me o coração, por outro, deu cabo da serenidade das Eucaristias. Sorte de quem participa nesta comunidade, porque o pároco, muitas vezes atropelado pelo barulho das crianças, tem um sentido paternal louvável. Uma empatia com estes pais, sensacional: limita-se a repetir o que pretende dizer. De uma beleza acolhedora fantástica. “Jesus é fantástico!”, diria o saudoso padre Dâmaso.
A presença das crianças na Eucaristia, obriga os pais a uma adaptação enorme: mesmo com dificuldade, é necessário reorganizar a vida nos seus horários, nos seus compromissos e nos seus espaços. Como esposos cristãos, de facto, acreditam que a partilha da Eucaristia semanal é um momento muito importante, ouso dizer, necessário e central na vida do casal. Ou seja, a vida de uma família cristã, não declara como opcional a Eucaristia dominical.
Não me sentindo um expert na matéria, quando converso com estes pais, além dos os alertar para a situação transitória, mesmo que cansativa, em que se encontram, porque pouco a pouco as crianças irão crescer e já será possível viver a Eucaristia dominical de uma forma serena, mesmo com a presença delas. Na verdade, os pequenos não incomodam a missa! Acompanhados eles podem participar de acordo com sua fase de desenvolvimento.
No entanto, para mim o mais importante nem é esta realidade. Gosto de partilhar com estes pais que a responsabilidade paternal/maternal, ou a obediência da vida conjugal às necessidades reais e atuais da família são a Missa Dominical deles! Não tenho dúvidas que oferta que fazem no cuidado dos filhos durante a Santa Missa, unida à de Cristo, agrada a Deus.
O sim nesta situação é a coisa mais preciosa que podem dizer ao Senhor, como expressão de amor a Ele, aos filhos e à vida. Nada agrada mais a Deus do que dizer o seu «amém» às situações contingentes da vida quotidiana, com a mesma fé com que o diria, e espero não escandalizar ninguém, no momento da comunhão eucarística.
Queridos pais, não tenhais medo de levar as vossas crianças à Missa e não vos preocupeis com a confusão que elas possam provocar. Porque, um bom pai ou uma boa mãe, sabe sempre que atitude terá que adotar perante o comportamento do seu filho.