E reconhecer? Não?

Crónicas 22 junho 2023  •  Tempo de Leitura: 4

Conheço imensa gente que trabalha como voluntária para associações, movimentos, igreja e eu sei lá que mais. Vejo, na maioria, a vontade genuína de dar o seu contributo para fazer algo de melhor seja pela sua freguesia, paróquia ou lugar. E é maravilhoso!

 

No entanto, vejo que é um trabalho que a elas, como a mim, nos fica caro. E quando digo caro não falo apenas em termos monetários, mas em termos de algo muito precioso que é o tempo. Se passo 8 horas do meu dia focada no meu trabalho, quando regresso a casa quero descansar e estar com os meus, mas a agenda comunitária acaba por se sobrepor em reuniões, formações e preparações e tudo o que acaba em palavrões difíceis de explicar aos filhos e marido que ficam em casa. Tudo em prol de um mundo melhor e de pessoas mais felizes- dizemos nós, para nos confortar.

 

- Então, porque é que por vezes nos sentimos vazias, tal qual saco de semente que depois de esvaziar fica cheia de… nada?

 

- Porque nos sentimos esgotados e até invisíveis quando damos o melhor de nós em prol dos outros?

 

Não sei explicar, mas uma coisa eu sei: somos seres de capacidades ilimitadas e força inesgotável desde que ela seja alimentada. É como o fogo, se for alimentado, lentamente, na medida certa, ele ilumina e aquece, mas quando se apaga, apenas fica a cinza que rapidamente desaparece. Sinto que a missão é como um fogo, com vida própria, mas que precisa da ação do outro para cumprir o seu propósito. Independentemente de conseguir ser uma chama, grande ou não, sei que para se manter acesa precisa de ser cuidada e alimentada.

 

Então como alimentar o fogo da missão?

 

Entre outras coisas, acredito que o reconhecimento é altamente “inflamável”. Quando vemos algo bonito a acontecer, quando vemos alguém a fazer algo bom, deveríamos ser os primeiros a dizer” eu vi, e gostei do que vi” sem receio nem pudor. Somos todos muito rápidos a apontar dedos, e eu também, mas deveríamos ser também a elogiar ou, pelo menos a reconhecer o esforço e a dedicação.

 

Infelizmente quando expresso um certo desalento, ouço:” só o fazes porque queres!” e com toda a razão. Mas gostaria mais de ouvir um “obrigada” em vez de uma desvalorização. Da mesma maneira que um pai ou mãe tem um filho, “porque quer”, há momentos em que questiona se o que está a fazer está correto. Não é? E nessa altura não gostas que te digam que a responsabilidade é tua, mas que te animem e reconheçam que não é uma tarefa fácil, mas é fundamental. Quando partilhamos as nossas fragilidades, e a outra parte ouve, reconhece e até nos conforta, o nosso fogo, até então em vias de apagar, ganha numa chama nova, cresce e ganhamos logo super poderes!

 

O poder das palavras, das mensagens e dos gestos pode realmente fazer a diferença, mas temos medo de reconhecer o valor dos outros, como se isso nos retirasse algum valor próprio. Nada mais errado! Quando o fogo dos outros nos ilumina e nos aquece, também nós queremos fazer parte desse fogo e cumprir o nosso propósito, seja ele qual for.

 

Reconhecer o empenho dos outros, mesmo que o resultado não seja o esperado pode mudar tudo, não achas?

 

E tu amiga, sentes que te reconhecem?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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