Para nós o milagre é isto
«Para nós o milagre é isto: é a forma como decidimos viver estes meses, em família.»
Mariana Abranches Pinto, mãe da Inês Pinto
A Nini partiu no passado dia 18, apenas com 18 anos. Mas com uma vida enorme! «Acho que a minha vida está completa, que já recebi e dei muito amor, acho que estou pronta». Uma frase dita numa entrevista o ano passado que me ficou retida na cabeça e me levou a segui-las nas redes sociais: @amorrercomigo
A doença e a fragilidade são fases muito delicadas da vida que pedem atenção, ternura, compaixão, muita disponibilidade e paciência. Estas fases mostram toda a nossa pobreza e a nossa imensa vulnerabilidade. A vida é um sopro.
Quando a enfermidade é grave, irreversível e degenerativa, pode constituir uma espécie de tabu: temos vergonha da fraqueza que parece extinguir a vida e tirar-nos a dignidade. Porque precisamos de ajuda para as coisas mais normais do quotidiano.
A tentação é negar esta fragilidade, ou mesmo fugir, não tanto ou não apenas para proteger a dignidade dos enfermos de olhares indiscretos, mas pela vergonha que essa situação gera em nós. Somos frágeis e impotentes como todas as criaturas da mundo...
Rejeitamos, portanto, a priori, a possibilidade de adoecer. Não queremos pensar nisso. “Pensa em coisas boas!” dizem-nos.
Além disso, a realidade social em que estamos inseridos não nos ajuda em nada. O importante é produzir! Ser úteis! De facto, estilo de vida que levamos não só não favorece o encontro com as pessoas vulneráveis, como tende a votá-las ao esquecimento, caindo numa paradoxal desumanidade. Todos nós, mais cedo ou mais tarde, passaremos pelo mesmo. Todos somos frágeis. Todos somos um sopro...
«Temos medo da vulnerabilidade e a cultura generalizada do mercado nos leva a negá-la. Não há espaço para fragilidade. E assim o mal, quando invade e nos ataca, deixa-nos atordoados no chão. Pode acontecer, então, que os outros nos abandonem, ou que sintamos que devemos abandoná-los, para não nos sentirmos um peso para eles. Assim começa a solidão, e a amarga sensação de uma injustiça nos envenena, pelo que até o céu parece fechar. (...) A doença faz parte da nossa experiência humana. Mas pode tornar-se desumano se for vivido no isolamento e no abandono, se não for acompanhado de cuidado e compaixão».
Mensagem do Papa Francisco o Dia do Doente, 2023
Não é fácil para mim... O caminho é longo e doloroso. É preciso proximidade, cuidado, paciência e muito amor, para evitar o perigo de cair no desespero e naquela solidão que mata, com medo de ser abandonado até por Deus.
Em memória do padre João Aguiar Campos. Faz hoje 2 meses que nasceu para o céu.