Lutar contra a pobreza. Como?
Segundo os últimos dados que possuo (2021), as Nações Unidas dizem que há aproximadamente 900 milhões de pessoas no mundo que vivem com menos de dois dólares por dia. Ou seja, cerca de 10% da população mundial. Já o Programa Alimentar Mundial afirma que cerca de 795 milhões de pessoas sofrem de fome.
Cerca de 19,7% das pessoas na UE estão em risco de pobreza e 8,3% da população não pode dar-se ao luxo de comer carne ou peixe a cada dois dias. Trata-se de dados publicados em julho pelo Eurostat, o Serviço Europeu de Estatística, relativos a 2022. E as percentagens estão a crescer em comparação com 2021: 2,2% das pessoas estão em risco de pobreza, mais 1% lutam para comer bem.
Esta é a realidade nua e crua. O que fazer? Como o fazer?
Construir comunidade é o passo fundamental para alcançar a paz e a prosperidade!
Na “Pacem in terris” o Papa João XXIII indicou-nos os quatro pilares fundamentais: O primeiro é a verdade, que exige o respeito pela dignidade de cada pessoa e a eliminação de todo o racismo.
O segundo é a justiça, que combina o reconhecimento dos direitos com o cumprimento dos deveres. O princípio da justiça exige que as diferenças sejam abordadas através da compreensão mútua.
O terceiro é o amor, a solidariedade ativa e sustenta os outros dois princípios com a cooperação para o bem comum. Através dela seria possível manter o equilíbrio entre população, terra e economia. A partir daqui, o fenómeno dos refugiados pode ser tratado e será possível iniciar um caminho de desarmamento.
Em quarto lugar, está a liberdade que chama cada comunidade política à responsabilidade de dar autonomia aos outros para serem os primeiros arquitetos do seu próprio crescimento.
Nesta perspetiva, construir comunidade é a condição fundamental para a paz e prosperidade. Trata-se de superar um nós exclusivo e trabalhar por um nós alargado, abrindo-se em particular aos últimos, aos marginalizados, às pessoas em condições de não autossuficiência, aos que procuram uma vida melhor fora do seu país, aos que caem na pobreza.
Vivemos num tempo de grande pobreza. A globalização prometeu maior bem-estar para todos, mas também deixou para trás um aumento das desigualdades e uma exploração abusiva dos recursos do planeta. O Papa Francisco diz isso claramente na “Laudato Sii”: existe uma relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta. Descobrimo-nos num mundo cujo modelo de desenvolvimento produz resíduos: resíduos que poluem e descartáveis humanos, porque quem não o acompanha vê-se relegado para a margem. E também não falta a violência, como temos visto nos últimos dias.
Além disso, existem muitos tipos de pobreza, material mas também simbólica, como a perda de sentido, a concentração excessiva nas coisas materiais. A desigualdade é o resultado do nosso modelo de desenvolvimento, que tem muitos méritos porque melhorou as condições de vida de várias pessoas, mas paradoxalmente também produziu efeitos colaterais evidentes. É por isso que falamos em sustentabilidade. É a consciência de que tudo está interligado e que é preciso cuidar deste elo: a sustentabilidade que não é apenas tecnológica e económica, mas humana, integral, para todos os homens e para o homem todo.
Neste contexto, a caridade cristã tem um papel muito importante. Não é apenas uma resposta às necessidades, mas é um sentido, um horizonte partilhado: a fraternidade. No cristianismo, a pobreza não é apenas um mal a ser erradicado, mas é também um estilo de vida: um caminho de liberdade, de leveza, de essencialidade que nos liberta da escravidão das coisas e torna possível a proximidade.
Neste sentido, é uma condição de paz: enquanto houver desejo de posse, nunca haverá paz.
Não basta dar esmola, é preciso partilhar o tempo e a vida.
p.s. Hoje rezemos também pela paz no Médio Oriente, como nos pediu o cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, em nome dos bispos da Terra Santa.