Dia de todos!
Na próxima semana somos convidados, através da Solenidade de Todos os Santos e da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, a refletir sobre a vida, a morte e a santidade. São dias onde o desconhecido preenche os nossos pensamentos, uma vez que nos debruçamos sobre o mistério da vida e da morte, mas também sobre a possibilidade de tantos e tantas que, não sendo reconhecidos como santos e santas pela Igreja, viveram a santidade com tudo o que foram e fizeram.
Solenidade de Todos os Santos. A liturgia dedica este dia para que possamos não só recordar todos aqueles e aquelas que reconhecemos como santos e santas, mas permite-nos, acima de tudo, relembrar que a santidade pode habitar o ordinário. Este dia recorda-nos que a santidade é coisa de se exercer no nosso quotidiano. Por isso, se tudo o que vivemos, somos e fazemos, durante os dias da nossa vida, são reflexo de santidade, quantos é que não devem ser recordados neste dia?
Se comemoramos o dia de todos, então entram todos os que conhecemos, os que ainda estaremos por conhecer e também aqueles que jamais saberemos o seu nome ou a sua história. Se comemoramos o dia de todos, então este é o dia dos que na sua simplicidade vão salvando o mundo. É o dia dos que no seu quotidiano optam por dar a conhecer a santidade com a sua humanidade. Se comemoramos o dia de todos, então este é o dia dos que salvam com o sorriso. É o dia dos que erguem com os seus abraços e que dão o seu corpo em favor de tantas causas. Se hoje é o dia de todos, então este é o dia dos que dão o seu tempo e dos que alimentam e ajudam no silêncio das suas vidas.
Se comemoramos o dia de todos, então entram todos os que salvam o mundo sem darmos conta. Sem nos apercebermos do quão grande são os seus pequenos gestos. Se comemoramos o dia de todos, então este é o dia em que recordamos todos os nomes. Todas as crenças.
E, no dia seguinte, recordamos os que habitaram as nossas vidas. Não que o façamos só neste dia, mas porque o ritual nos ajuda a aprofundar ainda mais o mistério da vida e da morte. As cerimónias e a romagem aos cemitérios dão corpo e consciencializam-nos para a nossa fragilidade. É no ritual que recordamos, de forma intensa, os olhares, os sorrisos, as lágrimas, as histórias e as palavras dos nossos mais que tudo. É o dia onde as gargalhadas e o choro se cruzam. É o dia onde a esperança e a dúvida se tocam. É o dia onde a fé e o ateísmo andam de mãos dadas. Sim, porque com a morte a nossa vida expande-se ao ponto de já não nos conseguirmos situar entre o preto e o branco.
Este é o dia onde recordamos aqueles que amorosamente fazem parte do que somos. É o dia das pessoas que amamos e que farão para sempre eco no nosso coração. Este é o dia onde agradecemos o facto de nos sabermos feitos de muitos. Este é o dia em que sabemos que nada é mais forte que o amor, onde repousamos o olhar e o coração nas memórias dos nossos amados, nos que já sabem o que é Deus ser tudo em todos. Este é o dia em que saboreamos a certeza de que na morte e na ausência, vence o amor. E onde há amor, há sempre vida!
Nos próximos dias somos convidados, de forma mais profunda, a refletir sobre o que somos, sobre o que fazemos e sobre o sentido da vida, por isso aproveitemos este tempo não para o tornar num ritual vazio ou num tempo de mero descanso, mas para abraçarmos as nossas feridas, a nossa saudade e as nossas perguntas!