Antes Testemunhas do que Mestres!

Crónicas 14 novembro 2023  •  Tempo de Leitura: 4

Acabamos de viver a Semana de Oração pelos Seminários. Escrevi aqui, na semana passada, que a queda de vocações sacerdotais no mundo ocidental deve-se, como razão imediata e visível, à queda demográfica, porém ela já era consequência de uma razão maior: a falta de fé! 

 

Certamente o declínio demográfico pode ser uma causa, uma vez que nascem menos crianças e as famílias já não são tão grandes como eram. Porém, o grave problema é a crise de fé que atravessa o nosso mundo. Uma fé débil que se manifesta na falta de confiança na vida, no futuro e, num assustador para sempre.

 

Basta olhar para a fragilidade e a falta de perseverança nos casamentos e na vida consagrada. Os casamentos cristãos diminuíram porque se opta pela coabitação. E, cada vez mais, nem isso! Além disso, aumentam os escândalos e, algumas vezes, o abandono de consagrados. Tudo isto, em parte, devido à a dificuldade em assumir compromissos estáveis ​​que durem no tempo.  E porque tantas vezes apoiam-se em outros deuses, que não o Deus de Jesus Cristo.

 

A crise social que atravessamos, a incerteza, o consumismo e a necessidade de autorrealização, também não nos ajudam a colocar questões existenciais profundas. Os jovens são objeto deste consumo. Ao mesmo tempo, são bombardeados por múltiplos estímulos, que pouco ou nada ajudam a entrar na sua interioridade e assim ouvirem os grandes desejos dos seus corações.

 

A sociedade afirma uma visão secularizada da existência onde Deus é como se não existisse e a religião é relegada apenas à esfera pessoal. 

 

A Igreja é tantas vezes vista como uma instituição social de apoio aos pobres, não já como lugar de uma experiência comunitária de vida crente. De vida que permite ver mais além, para lá das circunstâncias materiais e existenciais. E as nossas celebrações de fé são... tristonhas!?

 

O ambiente de mundanidade e de secularização em que estamos imersos, nós os crentes, não nos ajuda a descobrir o sentido profundo e exigente de cada existência, nem a interrogar-nos sobre a razão de uma vocação.

 

As perguntas que podemos colocar-nos é se as nossas comunidades cristãs são também geradoras de vida, de vocação? Da vocação ao amor que diz respeito a todos nós.

 

Ainda temos a coragem de rezar pelas vocações, de fazer crescer nos jovens a semente vocacional, ou também já acreditamos que uma vida de serviço total ao Reino, em forma de consagração, não é possível porque é algo de outros tempos?

 

«O homem contemporâneo escuta mais os testemunhos do que os mestres ou, se escuta os mestres, é porque são testemunhas. As novas gerações têm uma sede particular de sinceridade, de verdade, de autenticidade. Elas têm horror ao farisaísmo em todas as suas formas. É, portanto, compreensível que estejam apegadas ao testemunho de vidas plenamente comprometidas ao serviço de Cristo. Elas percorrem todos os cantos da Terra para encontrar discípulos do Evangelho, transparentes a Deus e aos homens, que permanecem jovens com a juventude da graça de Deus». 

 

Papa Paulo VI, Audiência dada ao Pontifício Conselho para os Leigos em 2 de outubro de 1974.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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