A fronteira
Na vida, como nas geografias, as relações podem ser similares. Aparentemente abolidas, as fronteiras continuam a ser memória de entrada no território de um outro para quem sou considerada estrangeira. A abolição de fronteiras veio trazer significado a uma outra identidade com maior horizonte: sou portuguesa, sou europeia e sou cidadã do mundo, habitante na terra, nossa Casa Comum, criada e entregue gratuitamente ao ser humano para que continuasse a obra da criação.
Ainda assim permanece um gene identitário maior e mais sólido: sou criatura de um Criador comum a todas as criaturas à face da terra, ao universo e ao cosmos.
Mas nas relações pessoais há um gene identitário que faz criar nelas distâncias e diferenças. Ou aproximações.
Entrar no espaço do outro significa descobrir o que nos une num universo onde sou um ponto maravilhoso e único, irrepetível, e, na união, descobrir a distinção.
Uma distinção que se centra no ser complementar do outro em relação em mim e menos no ser ameaçador por ser diferente. Uma distinção que coloca o meu olhar no olhar de um outro como criatura do mesmo Criador que me criou.
Uma distinção que me faz tratar cada próximo por irmão ou irmã.
Precisamos de abolir as fronteiras e as barreiras do coração.
Ainda há medo!?
Ou, como diria Charles Peguy, caminharemos todos de mãos dadas com a Pequena Esperança, que caminha entre as suas duas irmãs a Fé e a Caridade?