Bem-Aventurados os Idosos
«Bem-aventurados os que me olham com simpatia.
Bem-aventurados os que usam de compreensão para o meu lento caminhar.
Bem-aventurados os que falam em voz alta para superar a minha surdez.
Bem-aventurados os que apertam com ternura as minhas mãos trémulas.
Bem-aventurados os que se interessam pela minha longínqua juventude.
Bem-aventurados os que não se cansam de ouvir as minhas histórias tantas vezes repetidas.
Bem-aventurados os que compreendem a minha necessidade de carinho.
Bem-aventurados os que me dedicam parte do seu tempo.
Bem-aventurados os que se lembram da minha solidão.
Bem-aventurados os que me acompanham no meu sofrimento.
Bem-aventurados os que alegram os últimos dias da minha vida.
Bem-aventurados os que me acompanharem no momento da morte.
Quando entrar na minha Vida sem fim, recordar-me-ei sempre deles!»
As Bem-Aventuranças do Idoso
No exercício da profissão gosto de privilegiar, estimular e desenvolver as relações intergeracionais. Ou seja, que os meus alunos se relacionem com os adultos e com os idosos, além de, sempre que possível, desenvolver atividades com outras crianças diferentes. Acabamos o primeiro período com um Concerto de Natal e iniciamos o segundo com O Cantar os Reis. Visitamos dois Centros de Dia e um Lar.
Que experiências tão enriquecedoras!
É preocupante a solidão em que muitos idosos se encontram. Não são todos, nem pretendo generalizar porque muitos idosos são cuidados por familiares ou acolhidos em estruturas dignas que os cuidam com atenção e preocupação.
Infelizmente, porém, a situação de haver cada vez mais idosos na nossa sociedade, onde a taxa de natalidade está no nível mais baixo de todos os tempos, representa um grande desafio.
Os jovens casais, muitas vezes apenas com um filho e com problemas de trabalho, não conseguem assumir a assistência aos pais idosos e delegam-no a cuidadores ou lares. Por esta razão, muitas vezes, os idosos já não são vistos como uma dádiva, mas como um fardo, especialmente quando já não são autossuficientes e necessitam de assistência.
Além disso, hoje mais do que nunca, há o mito muito forte do ser jovem eternamente e ninguém quer envelhecer. É cada vez mais difícil defender ou acreditar que o idoso tem valor por si mesmo e não pelo que produz.
É esta cultura da produtividade e do desperdício, cada vez mais difusa e agreste, que contribui para a marginalização de quem não produz, ou não cumpre os critérios de eficiência, competitividade... Diz-nos o Papa Francisco que “A velhice, impõe ritmos mais lentos, que não são tempos de inércia, mas espaços de sentido da vida desconhecidos pela obsessão da velocidade e da produtividade”.
Mas como falar de paciência? Como explicar a fragilidade? Como aceitar os limites? Como viver a resiliência? Não são os nossos idosos os maiores mestres em sabedoria que é fruto de uma experiência de vida que passou pelo sofrimento como uma prova de obstáculos? Quanta aprendizagem surge da escuta da vida de pais idosos que, apesar das suas limitações, conseguiram construir uma casa e uma família!...
A sociedade não deve apenas ajudar as pessoas a envelhecer bem, mas também fazer deste tempo uma oportunidade para crescer nas relações, no cuidado e na solidariedade.
Temos, devemos olhar para a terceira idade com outros olhos! Se queremos uma sociedade melhor, que respeite todos, todos, todos, cada um de nós, no seu quotidiano deve fazer o que está ao seu alcance!
É necessária uma nova cultura política sobre a velhice, um salto moral. A velhice pode representar uma reserva de memória histórica e de vida espiritual, mas não só. Ela é oxigénio, pois pode ser pulmão que nos alerta para um futuro que deve ser trabalhado no presente.