Humanizar a Humanidade?
A minha intenção inicial era a de dar a esta pequena reflexão um outro título: «Rezar a Esperança». É o lema da Semana do Consagrado que estamos a viver em Portugal desde o passado dia 26 até ao próximo dia 2 de fevereiro, dia da Apresentação de Jesus no Templo e dia da Jornada Mundial do Consagrado.
Porém, ao confrontar-me com a publicação de uma amigo consagrado “Semana da Vida Consagrada. Gente Feliz”, enquanto, descontraidamente, andava de baloiço, mudei para a humanização. E porquê?
Porque, ao contrário do que muita gente pensa, um consagrado não deixa de ser humano. Direi exatamente o inverso! A pessoa que se consagra a Deus, assume definitivamente a sua humanidade, porque é nela que se revela a salvação completada por Jesus Cristo na cruz. Quando se diz que o consagrado morreu para o mundo, não quer dizer que deixou de ser humano e de sentir tudo o que um humano sente e vive. O propósito do consagrado é o de viver com mais afinco e com todo o seu ser para Deus. É morrer para a vã glória do mundo.
O consagrado, procura redescobrir a beleza da vida, na vida quotidiana. É aqui, com o dom da fé, que se encontra Deus. E quando o fazem, quando encontram o amor de Deus, levam-no, na sua simplicidade, aos outros que somos nós, tantas vezes perdidos nos afazeres do mundo. Por isso é que o consagrado, mesmo o de clausura, não vive apenas para si, como se a sua fé fosse um intimismo, uma atitude de entrega a si mesmo. Mas partilha-a no acolhimento, na oração e na ajuda ao irmão que não tem educação, está doente, vive na rua, ou que pura e simplesmente cresce na sua paróquia.
A história mostra-nos quanto a presença da vida consagrada foi um dom dentro da Igreja e um instrumento de humanização para a sociedade em todos os tempos, com os seus vários carismas ao serviço do homem. Um presente, como tal, deve ser sempre acolhido com gratidão e responsabilidade para que possa continuar a beneficiar quem precisa. A vida consagrada é pois, um dom à Igreja e ao mundo.
O consagrado, com a sua vida, tem a capacidade de desmascarar a idolatria disfarçada de religião; a verdade como instrumento de poder; a injustiça disfarçada de justiça.
O consagrado, com a sua entrega, tem a capacidade de dar ao mundo a sabedoria paciente do Evangelho para saborear a autenticidade e a beleza da vida.
E na companhia de homens e mulheres, ele pode continuar a contar o projeto da sua vida, do qual o Senhor Jesus é o fundamento, com a fraternidade, o serviço incondicional, a caridade, que transforma o mundo.
Devemos, no nosso quotidiano, rezar e ajudar os consagrados a serem fiéis à sua vocação.
Ele é uma testemunha ativa da justiça do Reino, onde cada pessoa é restituída à sua dignidade.
Ele é testemunha da beleza de um regresso ao Evangelho que já é fonte de vida nova e de renovada esperança para a humanidade.