O que tem Taizé de especial?
Em dia de Carnaval, impressiona-me a quantidade de jovens portugueses que estão em Taizé. Através das redes sociais, assisto maravilhado à alegria da viagem. À alegria destes dias divididos entre trabalho, oração, convívio e... silêncio. O que tem Taizé de especial?
«Quando era jovem, ficava surpreendido ao ver os cristãos que, apesar de se referirem a um Deus de amor, desperdiçavam tanta energia tentando justificar o que os diferenciava. E disse a mim mesmo: para comunicar Cristo, haverá talvez uma realidade mais transparente do que uma vida doada, na qual, dia após dia, se realiza a reconciliação? Então pensei que era essencial criar uma comunidade de homens determinados a dar toda a sua vida e que procurem continuamente a reconciliação.
No verão de 1940, disse a mim mesmo: “A guerra estourou e há um grande sofrimento. É hora de começar o que está no coração há muito tempo." Então, de Genebra, parti para França. Saí de bicicleta e cheguei a Cluny, onde o notário me mostrou uma casa à venda em Taizé. Era então uma aldeia sem estradas asfaltadas, sem telefone, nem água canalizada. Não havia padre desde a revolução. Quando cheguei, fiquei impressionado com a recepção calorosa de alguns idosos. Um deles convidou-me para almoçar e disse: “Fica aqui, estamos tão sozinhos e os invernos são muito longos...” E então escolhi Taizé.»
Frei Roger Schutz
Esta história tornou-se num dos capítulos mais significativos da vida religiosa europeia do século XX. Algo absolutamente singular e inédito que deixou a sua marca na vida de dezenas de milhares de jovens de todos os continentes. Com duas grandes aspirações: caminhar na vida interior através da oração pessoal e a beleza da oração comum, e assumir responsabilidades para tornar o mundo mais habitável.
Em Taizé, encontramos jovens de todo o mundo, capazes de manter um silêncio intenso, nada artificial durante as três orações diárias. É precisamente aqui que se apreende o valor de Taizé: uma profunda experiência espiritual, capaz de colocar no centro a contemplação pascal de Jesus, e que também consegue transformar-se num modo de celebrar, num modo de cantar, num modo de rezar.
Qual é o segredo?
Certamente a simplicidade e a espontaneidade da oração. O estilo de vida que se leva naquele lugar e naqueles dias é agradável e convincente. As barreiras e preconceitos caem e somos capazes de interagir com os outros vendo-os como eles são e não no que têm de diferente.
A oração é um pouco diferente da nossa. É ecuménica e baseada no canto e numa série de refrões que com o tempo se memorizam, preenchem a alma e passam a ser cantados na rua.
Os jovens têm sede de espiritualidade. Talvez um pouco diferente daquilo que lhes transmitimos por tradição. Quando lhes dizemos para rezar, pensam instintivamente no terço, em orações aprendidas na catequese ou em família. Não são más escolhas, mas talvez não correspondam ao que mais sentem necessidade...
O modelo de oração de Taizé é feito de silêncio, de refrões, de escuta da Palavra. É uma experiência que os envolve profundamente e ao longo dos anos se enraíza no coração com tanta tenacidade que provoca fortes mudanças nas suas vidas.
João Paulo II tinha razão quando, em Outubro de 1986, lá foi para rezar e encontrar-se com a comunidade: «Passamos por Taizé como passamos por uma fonte. O viajante pára, sacia a sede e continua a viagem.»