E se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos?
E se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos? A forma como interpretamos o mundo, as nossas experiências e os outros está, claramente, influenciada por aquilo que somos. São os nossos valores, os nossos gostos e interesses, as experiências que tivemos, o temperamento que temos e os juízos e preconceitos que habitam em nós, que nos ajudam a fazer uma leitura da nossa existência e do que nos rodeia. Tomando consciência disto, conseguimos perceber que as leituras e interpretações que fazemos estão claramente enviesadas e não retratam, muitas vezes, a verdadeira realidade. Apesar de este exercício não ser algo automático (e diria até muito pouco utilizado no nosso quotidiano), não deixa de ser inválido que surjam diversas questões: como é que ateimamos a interpretar a vida dos outros apenas por aquilo que vemos? Como é que ateimamos a interpretar a vida dos outros apenas por aquilo que conhecemos? Porque é que ateimamos em interpretar a vida dos outros como se víssemos a totalidade do que somos e fazemos?
A verdade é que a questão inicial desta crónica também permite refletir sobre a nossa fé (ou a falta dela): e se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos? Pensando bem, talvez esta seja a nossa grande sorte. Deus vê-nos inteiros/as! Não nos define por um momento. Não deixa de acreditar em nós pelo que já fomos ou fizemos. Não deixa de contar connosco por causa dos nossos erros. Não deixa de querer que sejamos, apesar de ainda não sermos verdadeiramente. Deus permite-nos recomeçar, porque vê para além do que já somos. Deus deposita toda a sua fé em nós, porque habita a nossa inteireza!
E se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos? Se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos, então a contemplação passa a ser uma extensão do que somos. Se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos, então o outro é muito mais do que eu penso. Se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos, então não tenho autoridade para definir quem é ou não digno da Sua presença. Se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos, o desconhecido passa a ser espaço para que exista Vida.
Na sociedade e na Igreja, precisamos de todos/as para conseguirmos ver que a vida é sempre muito mais do que aquilo que vemos. Não desperdicemos esta riqueza. Não olhemos para nós e para os outros, apenas pelo que sempre nos disseram. Olhemos para nós, para os outros e para o Mundo com todos, isto é, com a presença do Espírito que se manifesta em cada um/a!
Hoje, antes de voltares a dizer alguma coisa, questiona-te: e se eu for muito mais? E se aquele/a que eu não compreendo for muito mais do que o que eu consigo ver?