Eles ainda se amam?
«Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor.»
Jo 15, 9
Jesus resume toda a lei e todos os seus mandamentos em amor e pede, depois da sua ressurreição, que os seus/suas discípulos/as permaneçam no amor. Jesus sustentou toda a sua vida em palavras e atos de amor. As suas palavras permitiram que muitos/as se sentissem amados/as e, por consequência, reencontrassem de novo o caminho do amor próprio. Foi também através das suas palavras que muitos/as descobriram a novidade do amor revelado por um Deus-Pai com entranhas de Mãe. Mas os seus atos também abriram a possibilidade de muitos/as encontrarem, no amor e através do amor, a beleza dos recomeços. O seu toque e o seu erguer deram a força necessária para que a cura iniciasse, muitas vezes, a cura biográfica, onde homens e mulheres puderam aceitar o que eram e o que foram e, assim, compreenderem que poderiam ser e fazer mais, muito mais.
No entanto, nesta passagem o que mais me marcou foi “Permanecei no meu amor.”. E ao repetir estas palavras recordava a expressão que caracterizava os primeiros cristãos: “Vede como eles se amam!”. E enquanto as repetia, questionava-me: o que perdemos, enquanto cristãos, para não estarmos no seu amor? O que valorizou a Igreja para que não seja reconhecida, atualmente, pelo amor? O que andamos a dizer e a fazer que não permitem ser reflexo de amor para os outros? Como é que podemos permanecer no seu amor? Ou melhor, como podemos voltar ao seu amor?
Acredito que aquilo que Jesus pedia, e continua a pedir, e que era também colocado em prática por aqueles primeiros cristãos, é que tenhamos a coragem, a audácia e a beleza de aceitarmos todos e todas. Aceitar, acolher e receber sem julgamentos. Tornando-nos pão para quem tem fome de Vida e vinho para quem tem sede de esperança e alegria. Aceitar, acolher e receber sem julgamentos para que todos e todas possam descobrir que no amor tudo é possível e depois, muito mais à frente e se fizer sentido dar a conhecer a proposta de caminho da Igreja. Ao ritmo de cada um, desconstruindo e caminhando em novos horizontes.
O primeiro passo será sempre tornar cristãos, através do amor, porque é no amor que surge a relação. É no amor que nasce a compreensão da fé e da Palavra: “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.” (João 4:23-24).
Permaneceremos no seu amor e seremos reconhecidos através desse mesmo amor, se formos adoradores em espírito e em verdade. E para isto não são necessários preceitos ou rituais, para isto não são necessárias vestes litúrgicas ou objetos da realeza. Para sermos adoradores em espírito e em verdade precisamos de viver segundo a nossa inteireza. Precisamos de autenticidade. Com tudo o que fomos, somos e ainda podemos vir a ser.
Hoje, antes de te intitulares novamente como cristão/cristã, questiona-te: os outros reconhecem-te como cristão/cristã? Como? Onde? E em que circunstâncias?