Vaclav Smil escreve num recente livro sobre invenções e inovações que geraram um grande furor na altura, mas revelaram-se um falhanço. Por exemplo, o DDT foi um pesticida que reduziu substancialmente as infecções de malária, mas não matou apenas insectos, afectando todo o ecossistema e fazendo-o entrar naquilo que a bióloga Rachel Carson intitularia de "Primavera Silenciosa" pelo desaparecimento do canto dos pássaros. Existem aspirações desejáveis que por vezes não passam disso e cujas consequências não poderíamos prever.

A fusão nuclear está prometida há décadas, e têm sido gastos milhões em instalações e investigação para conseguir produzir um sol numa garrafa, garantindo energia realmente limpa e acessível a todos, mas também esta não passa de uma aspiração desejável que não sabemos se algum dia produzirá frutos.

As aspirações desejáveis impulsionam o ser humano aos voos mais altos, mas será que isso nos desvia das realidades presentes na terra que precisam da nossa atenção? Como desenvolver e garantir que as aspirações desejáveis sejam concretizáveis?

Todos sonhamos a dormir e quando estamos acordados. As aspirações desejáveisfazem parte da segunda categoria. O ser humano sonhou voar e em 17 de Dezembro de 1903, os irmãos Orville e Wilbur Wright realizaram o primeiro voo da história humana por apenas 6 km convertendo a aspiração desejável de voar em realidade. Júlio Verne sonhava que um dia haveria uma viagem "Da Terra à Lua", e no dia 20 de Julho de 1969, Neil Armstrong ao pisar pela primeira vez a nossa Lua diria — «Um pequeno passo para o homem, um salto gigante para a humanidade.» — E se o voo dos irmãos Wright alterou profundamente o modo como nos movemos no nosso planeta, ninguém podia prever que o transporte aéreo se tornasse numa das maiores fontes de poluição que impulsionaria as alterações climáticas. No caso da viagem à Lua, diria que todo o dinheiro gasto em desenvolvimento tecnológico serviu para tirar uma bela fotografia do nosso planeta azul. Valeu a pena?

De que nos servem algumas bem custosas aspirações desejáveis quando esses recursos poderiam dirigir-se para resolver problemas bem concretos que a nossa humanidade vive?

«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.» — escrevia o poeta Fernando Pessoa. Por isso, podemos não compreender as razões de algumas aspirações desejáveisque levam demasiado tempo a produzir fruto, mas talvez por detrás de cada uma esteja um desejo de Deus que vai muito para além da própria aspiração. 

Aparentemente, foi o imenso tempo levado pela dinâmica do planeta durante a evolução que num momento resultou na consciência humana. As aspirações desejáveis podem levar muito tempo e exigir muitos recursos até produzirem algum fruto. Umas poderão revelar-se um falhanço, mas não há falhanço sem ensinamento que nos ajude a amadurecer como pessoas e como espécie.

A aspiração desejável é o impulso do coração que parte de um sonho cuja origem pode estar num desejo de Deus. Por detrás da aspiração desejável está a revelação da alma humana. Pois, como diria também Fernando Pessoa — «Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.»

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