Prémio Nobel de Pôncio Pilatos?
Um abraço marcante! Em Verona, no evento “Arena da Paz – Justiça e Paz se beijarão”, o gesto de duas pessoas “inimigas” que perderam entes queridos no conflito de Gaza.
O israelita Maoz Inon, cujos pais foram mortos pelo Hamas no fatídico 7 de outubro, e o palestiniano Aziz Abu Sarah, que chora a morte de um irmão às mãos do exército israelita na guerra em curso em Gaza, falaram lado-a-lado e no fim abraçaram-se. Abraçaram-se diante do Papa Francisco, para expressar o seu desejo de paz, mas também para indicar o único caminho para alcançá-la. Aconteceu na manhã de sábado, dia 18 de maio, na Arena de Verona com mais de 12 mil pessoas convocadas para a “Arena da Paz”, o encontro promovido pelos movimentos pacifistas e de iniciativa social italianos em que o Papa Francisco quis estar presente.
O pontífice disse aos tecelões do diálogo na Terra Santa: «O futuro da humanidade não está apenas nas mãos dos grandes líderes, das grandes potências e das elites, mas nas mãos dos povos, na sua capacidade de se organizarem. Vocês, porém, tecelões do diálogo na Terra Santa, peçam aos líderes mundiais que ouçam a vossa voz, que vos envolvam nos processos de negociação, para que os acordos surjam da realidade e não das ideologias: as ideologias não têm pés para andar, não têm mãos para curar feridas, não têm olhos para ver o sofrimento dos outros. A paz faz-se com os pés, as mãos e os olhos das pessoas envolvidas».
A paz não pode ser inventada da noite para o dia, e deve ser nutrida. A paz, como sabemos, é um produto artesanal, do qual se deve cuidar diariamente, sem nunca se cansar, indicando o caminho do diálogo que não anestesia nem afasta conflitos.
Mas isso dá trabalho. Claro!
Francisco apontou o dedo para as distorções contemporâneas: «Hoje o Prémio Nobel que poderiam dar a muitos é o Prémio Nobel de Pôncio Pilatos, porque somos mestres em lavar as mãos».A cultura hodierna é fortemente marcada pelo individualismo que, como consequência, faz-nos correr o risco de fazer desaparecer a dimensão da comunidade, dos laços vitais que nos sustentam e nos fazem avançar. O Papa afirmou que o individualismo na política, é a raiz das ditaduras.
Conflitos sempre os houve e sempre os haverá. O diálogo é que nem sempre prevalece... O pecado dos regimes políticos que desembocam em ditaduras é não admitir a pluralidade. Uma sociedade sem conflitos é uma sociedade morta. Só uma sociedade onde os conflitos são controlados e o diálogo é mantido, é uma sociedade com futuro. Tal como a nossa vida pessoal e familiar.
Ninguém existe sem os outros. Ninguém consegue fazer tudo sozinho. É necessário o trabalho colaborativo e cooperativo. Para isso precisamos de nos converter. Conversão de todos nós, não só individualmente, mas também como membros das comunidades, dos movimentos, das realidades associativas às quais pertencemos, como cidadãos.
A Paz é possível!
Arregacemos as mangas!