Em tempos eu era como tu!

Crónicas 28 maio 2024  •  Tempo de Leitura: 4

O título é a tradução da imagem que dá o pontapé de saída a esta reflexão. O nosso tempo poderia ser definido como os anos da morte da classe média. Estou certo de que são anos em que as desigualdades estão a aumentar dramaticamente.

 

Percebo que seja uma afirmação incomoda e até provocadora, mas acredito que as desigualdades estão a influenciar os cenários globais, nacionais e também os mais próximos de cada um de nós.

 

Digo isto depois de participar ativamente na Campanha dos Bancos Alimentares que decorreu durante este fim de semana. Num dos supermercados em que estive, vi pessoas a contar os trocos; vi pessoas que tinham a intenção de contribuir, mas que optaram, envergonhados, por levar para casa; ouvi pessoas que se desculparam de diversas formas para encapotar a pobreza que vivem... Em plena cidade de Lisboa! Em pleno bairro de Alvalade!

 

O que está a acontecer nos últimos anos? Os ricos estão a tornar-se cada vez mais ricos, enquanto os pobres estão a tornar-se cada vez mais pobres. 

 

Mas talvez o mais estranho e alarmante é que pouco se fala do assunto. Além disso, tende-se a desvalorizar quem alerta para o problema. Honestamente, para além do interesse que dão às palavras do Papa Francisco, são poucas as vozes que têm tempo de antena. Mas nesta questão das desigualdades, o verdadeiro cego é aquele que não quer ver a realidade.

 

Fala-se muito sobre os pobres e a pobreza. Às vezes, demais e de forma desadequada. E se definíssemos a pobreza de modo figurativo, poderíamos defini-la como uma catástrofe natural, como uma carestia, para a qual são necessárias gerações e gerações para se recuperar de tamanha tragédia humana.

 

Há quem pense a pobreza como desigualdades ligadas apenas ao poder de compra, mas na realidade as desigualdades atuam sobre vários fatores: a esperança de vida, o acesso a serviços básicos como os cuidados de saúde, a educação, a água e o saneamento, a higiene...

 

Porque pobreza, não é apenas aquela dita de absoluta, onde uma família não consegue assegurar as despesas de um cabaz de bens e serviços considerados essenciais para evitar formas graves de exclusão social. Existe a pobreza relativa onde uma família tem sérias dificuldades económicas na utilização de bens e serviços, portanto, a quantidade de dinheiro disponível tem que ser muito bem gerido para aguentar todas as despesas. E vê-se cada vez mais que ter um emprego não é suficiente para ter uma vida digna...

 

Os últimos dados Eurostat de 2023, referentes a Portugal, «indicam que 17,0% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2022, mais 0,6 pontos percentuais (p.p.) do que em 2021. A taxa de risco de pobreza correspondia, em 2022, à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 7 095 euros (591 euros por mês). O aumento da pobreza abrangeu todos os grupos etários, embora de forma mais significativa os menores de 18 anos (mais 2,2 p.p. relativamente ao ano anterior). A taxa de risco de pobreza dos adultos em idade ativa aumentou 0,4 p.p e a da população idosa aumentou 0,1 p.p.»

 

Se é verdade que Jesus disse que «pobres sempre os tereis», também nos disse que devemos «amar os outros como a nós mesmos!»

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail