«O essencial é invisível aos olhos»
Ser pai ou mãe é sempre uma tarefa delicada. Fruto das conversas que vou tendo com pais e educadores, hoje é um grande desafio educativo, principalmente no que diz respeito ao mundo feminino, graças às grandes mudanças dos últimos 60 anos na sociedade ocidental.
Positivamente, a mulher adquiriu liberdade, autonomia e capacidade de gerir a sua vida de acordo com os seus próprios princípios e valores. As batalhas pela emancipação feminina, pelo menos no Ocidente, contribuíram acertadamente para a valorização das mulheres, libertando-as da sujeição ao mundo masculino e favorecendo uma nova forma de ser e estar na sociedade. Uma tarefa ainda não terminada.
Que dificuldades enfrentamos então na formação de rapazes e raparigas?
Estamos na cultura da imagem, de mostrar tudo, sem regras, até as situações mais dramáticas e sofridas. Tudo pode ser uma oportunidade de espetáculo. Nada pode, nada deve ser mantido em segredo, pelo menos nas redes sociais.
Além disso, aparecer é giro! Ser famoso ou conhecido é importante: compete-se para ganhar um lugar no palco, mesmo sem se saber se é duradouro. Na verdade, na sociedade do espetáculo e do consumo, a aparência torna-se imagem: algo aparece e, com a mesma rapidez, desaparece.
Não nos surpreende que até o corpo seja exposto sem qualquer vergonha e a pessoa corra o risco de ser reduzida a um entretenimento, dado à atenção de todos como um objeto, ávido de ser admirado e bajulado.
O nosso trabalho é de reprepor o pudor. Este consiste no retorno da pessoa a si mesma, com o objetivo de proteger o seu eu mais profundo da esfera pública.
Não haja dúvida que é um sentimento a redescobrir: usufruir da beleza da intimidade. É o espaço da dignidade e da privacidade que fala de respeito por si e pelos outros.
O pudor é a virtude que consiste em preservar um espaço íntimo e pessoal, é a virtude que leva cada ser humano a tomar consciência da sua própria definição graças àquela autenticidade e verdade profunda que escapa ao olhar dos outros, de regressar ao essencial que dá sentido à vida e que é invisível aos olhos.
«O essencial é invisível aos olhos». Antoine de Saint-Exupéry
É começar a percorrer o caminho da vida interior para se considerar a si próprio e aos outros, não a partir do que aparece, do que se vê, da superficialidade, mas a partir do mistério irredutível de cada pessoa.
E, para nós cristãos, é também a possibilidade de redescobrir a própria verdade diante de Deus.