A vida de cada pessoa não é uma ilha...
A coordenadora nacional da Rede Europeia Anti-Pobreza, Maria José Vicente, divulgou que está a aumentar o número de pobres: no ano passado, havia 2,082 milhões de pessoas e, este ano, temos 2,104 milhões. Há não só mais pessoas pobres em Portugal como pessoas em risco de exclusão.
Causas? O desemprego e a precariedade do trabalho, os baixos salários, a falta de proteção social, a desigualdade intergeracional, a desigualdade no acesso aos serviços, a discriminação, a desigualdade social e a desigualdade de oportunidades, entre outras...
Na próxima quinta feira, dia 17, celebraremos o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, e o diálogo de Jesus com o homem rico, do evangelho deste domingo, deixou-me em profunda angústia: «Que devo fazer para herdar a vida eterna?»; «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me».
A tristeza do homem rico é a mesma que muitas vezes nós temos. Podemos dizer que acreditamos e amamos Jesus, mas não ao ponto de O colocar em primeiro lugar. A nossa tristeza, está na ausência de honestidade deste amor. Amamos Jesus, mas muitas vezes amamos mais os nossos projetos e as nossas coisas. O problema não reside no ter bens, mas na relação que se tem com estes. A riqueza toma o lugar de Deus...
Contudo, a precariedade deste tempo pode ser uma oportunidade, um desafio para uma verdadeira conversão e um renovado acolhimento fraterno que inclua todos, principalmente os mais necessitados.
É preciso sair dos nossos egoísmos, dos nossos mundos abafados, das casas fechadas ou blindadas para ver e reparar em quem vive ao nosso lado, no mesmo andar casa adjacente à nossa.
Tornámo-nos estranhos uns para os outros, desconfiados, queixosos. Urge tecer novas relações que quebrem a solidão e encurtem distâncias, feitas de escuta e de pequenos gestos de cuidado, de gentilezas gratuitas que apaguem a indiferença, a calúnia e que nos aproximem.
Precisamos de reaprender a tratar os outros com atenção para não magoarmos com palavras ou gestos; dar palavras de encorajamento que confortem e deem força, que consolem e estimulem, em vez de humilhar, entristecer e desprezar, distanciando-nos uns dos outros.
Cada um de nós não é uma ilha, mas está ligado aos outros e o tempo que passa é um tempo de encontro e de recuperação do sentido de fraternidade e solidariedade. Isto permite-nos ser um pouco mais irmãos e irmãs que partilham o tempo e os bens.
Precisamos do homem novo; precisamos de reaprender a nova gramática fraterna e humana, a gramática de Jesus, que nos aproxima dos outros, para que todos nos sintamos em casa, livres para partilhar sofrimentos e alegrias, sonhos e desilusões.
É necessário uma nova irmandade, para erradicarmos a sério a pobreza de tantos nossos irmãos.