«Olhos Altos, Mãos Juntas, Pés Descalços»
Sou defensor de que devemos voltar aos lugares onde fomos felizes. Nem que seja apenas para recarregar energias para o quotidiano dos dias. Voltei às Jornadas Marianas com Montfort, organizadas, no passado fim de semana, pelos Missionários Monfortinos em Fátima: “A Virgem Maria, mulher orante”.
«Eu não acho que uma pessoa possa ter uma união íntima com Nosso Senhor e uma perfeita fidelidade ao Espírito Santo, se não tiver uma grandíssima união com a Santíssima Virgem». Eis o fundamento da espiritualidade de Luís Maria Grignion de Montfort. «Toda a nossa perfeição consiste em ser conforme, unidos e consagrados a Jesus». Imitar Maria quer dizer seguir a criatura mais conforme a Jesus.
Foi neste contexto que ouvi a irmã Ângela Oliveira ASM, Aliança de Santa Maria. Toda a sua reflexão partiu de uma pintura de Maria a segurar um sacrário no colo com os braços abertos. Toda uma mensagem para estes últimos dias do mês de outubro que é dedicado à Missão.
De facto, Maria abre-nos os e aos mistérios de Jesus Cristo. Ela ama porque é amada, olhada como quem está ao cuidado de alguém, por Deus. E é também, neste seu olhar atento que recebe de Deus, que pode ser mediadora, intercessora de todo o cristão. Maria sabe que só o seu filho pode colmatar as nossas necessidades. Vejamos o exemplo das Bodas de Canaã. Maria olha com Cristo e por Cristo porque foi olhada, amada por Ele.
As mãos abertas, da pintura, significa que antes estiveram fechadas em oração. A Igreja costuma dizer que antes de Maria conceber Jesus no seu ventre, já o tinha recebido no seu coração. Portanto, antes de nos abrir aos mistério de Jesus, antes de nos dar, de comunicar Jesus, Maria acolheu-O, como o vimos na Anunciação do Anjo. Portanto, ama o Senhor, mãos juntas, e ama os irmãos, mãos separadas.
Como vemos, ela não é um ponto de chegada, mas caminho, tal como fez com a sua prima Isabel. Depois da Anunciação, levantou-se apressadamente e pôs-se a caminho, a Visitação.
Oração e Missão.
Também nós, primeiro temos que receber Jesus, por obra do Espírito Santo, e depois ir ao encontro dos outros. Dá trabalho, podemos magoar-nos (pés descalços), sofrer, desiludir... Mas há alguma vida sem sofrimento? Haverá outra forma de dizer verdade?
Maria é o modelo perfeito para nos conformar a Jesus Cristo e assim prosseguir com a nossa missão.
Maria ensina-nos que a beleza da vida está contida num «sim» que diz a escolha da pertença: a liberdade não é não pertencer a ninguém nem a nada, mas escolher a quem e o que dar totalmente em amor, certo de ser envolvido pela bênção de Deus. Uma existência enraizada nesta certeza só pode tornar-se um dom aos irmãos, um anúncio da misericórdia do Senhor que nos alcançou e encarnou para nós.
«Alguém comparou Maria a uma pérola de incomparável esplendor, formada e polida pela aceitação paciente da vontade de Deus através dos mistérios de Jesus meditados na oração. Que maravilha se nós também pudéssemos parecer um pouco com a nossa mãe! Com um coração aberto à Palavra de Deus, com um coração silencioso, com um coração obediente, com um coração que sabe acolher a Palavra de Deus e a deixa crescer como semente do bem da Igreja». Papa Francisco