Ciclo esperançoso
Jesus nasceu. Cristo nasce. Cristo nascerá. O que a realidade de Deus-Connosco, o Emanuel, revela é a existência de um ciclo esperançoso. Um renovar da consciência para a realidade de Deus que permanece entre nós, apesar das dores e sofrimentos do mundo. Repararam que comecei por Jesus e transitei para Cristo?
Na missa das crianças usamos o nome de Jesus para dizermos que “nasce”, mas a realidade é que já nasceu. Morreu e ressuscitou. Essa história está feita. A narrativa que alimenta o ciclo esperançosoé antes a que diz respeito a Cristo.
A palavra “Cristo” tem a sua origem no termo grego Christós (Χριστός), que significa “ungido”. Quando algo é bom dizemos ser XPTO, que tem a sua origem, também, em Cristo, como podem verificar na versão grega da palavra que escrevi anteriormente. Cristo é a tradução grega do termo hebraico Mashiach (Messias), usado na tradição judaica para se referir a alguém ungido com óleo, simbolizando a consagração divina para uma missão específica de orientar a salvação do povo de Deus. Salvar de quê? Dê um mundo relacionalmente danificado. “Cristo” não é um sobrenome, mas um título reconhecido em Jesus como o escolhido por Deus para estabelecer uma nova aliança e reconciliar o ser humano com o divino. É a nova aliança que nasce em cada ciclo esperançoso que passa. É um renovar da escolha de abrir o coração a Deus. Mas será a atitude interior de acolher o nascimento de Cristo apenas um desejo? Como se concretiza a esperança de “Cristo nasce” na história humana quotidiana?
Quantas vezes pensas em Deus sem que seja numa situação de aflição? Eu recordo-me muito bem de cada vez que experimentava uma luz enorme na resolução de um enigma científico, as inúmeras vezes que espontaneamente agradecia a Deus por aquela descoberta. Dizia para mim — «Não é mérito meu, mas Teu.» — sem qualquer falsa pretensão de agradar a Deus, mas consciente do profundo reconhecimento da Sua presença, mesmo quando não dou conta disso. Por vezes abrimos o coração, não para que Deus entre, mas antes como manifestação de uma alegria interior profunda que a intimidade em Deus não mais pode conter. O desejo é fundamental, mas dar-se conta de acolhermos Aquele que já se encontra dentro de nós é o paradoxo do Natal na génese de um ciclo esperançoso.
Recentemente fiquei a saber que o cunhado de um amigo está nos seus últimos dias. Talvez não chegue a renovar ociclo esperançoso. Que esperança pode o nascimento de Cristo dar a quem poderá partir antes do dia celebrado? A eternidade num instante. Esse tempo de Deus que da morte terrena passa para a esperança da vida eterna.
Como sabemos se a vida eterna é real se ninguém de lá voltou? Talvez porque de lá ninguém voltou, sabemos que a vida eterna é real. Cristo nascerá porque a vida não acaba nunca, mas renova-se eternamente. Uma realidade onde o ciclo esperançoso se completa num amor misteriosamente infinito.
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